Não é um acordo, é uma junção de vontades – Opinião de João Bruto da Costa

Escrevo este texto antes da provável aprovação da rejeição do programa do governo eleito pelos portugueses e demitido pela conjugação de vontades que pretende aldrabar os resultados das eleições de 4 de Outubro.

Depois de quatro anos de muito esforço e enormes sacrifícios eis que, de novo, querem os socialistas deitar a perder a recuperação do país e, com inegável aptidão para o populismo, procurar apresentar-se como alternativa com um programa com que aliciou outras bancadas parlamentares para engendrar o teórico acordo que contempla uma série de medidas que sabemos, à partida, serem um aventureirismo.

O suposto acordo do PS com PCP e BE não é um verdadeiro acordo, porque o partido que assume implementá-lo está em reserva mental quanto à sua execução.

O PS limitou-se a dourar os pressupostos de um negócio que arruína Portugal, levando no engodo a ânsia da extrema esquerda para apear do poder o governo de PSD e CDS.

Das duas uma, ou o PS acredita que Portugal está no melhor dos mundos e que, de repente, podemos abrir os cordões à bolsa e aplicar as medidas simpáticas que custarão cerca de dois mil milhões de euros, ou simplesmente soube gerir capciosamente os desejos dos seus novos aliados de circunstância, sabendo de antemão que depois de empossado arranjará mil e uma razões para não seguir as premissas que negociou para derrubar o governo e provocar a presente crise política.

A receita socialista faliu Estados nas últimas décadas e levou a mais pobreza e maior necessidade de sacrifícios. O mundo já não é um poço sem fundo de crédito onde socialistas vão buscar o dinheiro que a economia não gera para pagar as despesas, curiosamente, avolumadas pela própria política expansionista que, sabemos hoje muito bem, não trazem os resultados que anunciam.

E se não é pelo consumo, conforme está mais do que demonstrado, que a economia pode gerar emprego e riqueza para pagar todas as boas medidas de mais subsídios, maiores salários públicos, um sistema previdencial insustentável e, em regra, um avolumar da despesa do Estado, serão novamente os impostos e maiores dissabores que vão cair em cima, sempre, dos mesmos que vão servir para pagar a factura de uma estratégia de poder que só pode iludir quem não tem memória de como chegámos à bancarrota e a mais um resgate externo da nossa economia.

No campo das receitas, que o logro da esquerda espera pôr em execução, prevê-se um aumento da taxa a aplicar às heranças superiores a 1 milhão de euros, medida que põe a ridículo a proposta desta reeditada Frente Popular, pois seria necessário que em 2016 morressem todos os milionários portugueses e mesmo que isso acontecesse sabemos bem que as suas fortunas há muito deixaram Portugal e agora, mais do que nunca, muito capital será levado para outro lado com a maior das facilidades e urgências.

Lamentavelmente, a memória dos media e em geral dos fazedores de notícias esquece que foi precisamente assim que chegámos à situação de 2011, com aumentos da função pública que sabíamos não poder pagar e com outros tantos devaneios de novo-riquismo que arruínam as contas públicas e vão levar, mais cedo do que tarde, à devolução de tudo quanto agora querem oferecer a troco de poder.

Perante isto resta ao Presidente da República, que agora alguns querem reduzir a “Rainha de Inglaterra”, impedir que Portugal embarque no jogo de absurdos em que se tornou a esquerda portuguesa, pois será sempre menos lesivo um governo de gestão até Maio do que um par de anos de delapidação do Estado.