1. Bastaram apenas alguns dias para se confirmarem as piores expetativas sobre a capacidade da SATA para substituir a TAP nas ligações de Lisboa com as gateways do Faial e do Pico. A semana em que se verificou o arranque do pomposamente designado novo modelo de transportes aéreos foi um desastre. Uma vergonha e em alguns casos um atentado à dignidade das pessoas. Entre atrasos, avarias, cancelamentos, alterações de última hora, confusões, falta de informação, etc… Houve de tudo e tudo foi muito mau!
Diz o adágio popular que só há uma oportunidade para se causar uma primeira boa impressão. E a SATA perdeu essa oportunidade. Se as expetativas que a generalidade dos Faialenses tinha sobre a capacidade da SATA para assegurar na rota Horta/Lisboa um bom serviço, pelo menos semelhante ao que a TAP vinha prestando, já eram baixas, a semana que passou agravou esta situação. A SATA precisava ter iniciado esta operação de outra forma para gerar nos Faialenses confiança e tranquilidade mas infelizmente tal não aconteceu. Bem pelo contrário, os acontecimentos da última semana reforçaram nos Faialenses um sentimento de perda e de que estamos a retroceder muitos anos nas ligações aéreas entre a Horta e Lisboa.
2. Apesar da positiva diminuição do preço das passagens não posso estar satisfeito com este novo modelo de transportes aéreos que, pelo menos até esta data, tem acarretado impactos altamente negativos para a nossa ilha. Ora vejamos. Vai reduzir o número de voos diretos entre Lisboa e a Horta (menos 66 voos em 2015 comparando com 2014). Reduz igualmente o número de lugares oferecidos quando comparados com os oferecidos pela TAP em 2014. Diminui a projeção e a notoriedade da Horta e do Triângulo enquanto destinos turísticos. Oferece horários inadequados especialmente para a captação de turistas vindos de outros destinos europeus. Retirou-nos a ligação direta de segunda-feira penalizando quem quer ir ao fim-de-semana a Lisboa ou vir ao Faial. Diminuiu a qualidade e a fiabilidade do serviço prestado nesta rota. Retirou-nos postos de trabalho. Fez-nos perder turistas como têm testemunhado e denunciado inúmeros empresários do setor turístico. Levou ao cancelamento de muitas reservas efetuadas há muito. Compromete em muito a continuidade e o desenvolvimento da gateway da Horta.
São muitas penalizações para a ilha do Faial, a ilha que de longe é a mais prejudicada com este novo modelo. É bairrismo? Não! É a defesa da minha Terra e disso eu não abdico!
Neste contexto é profundamente ridículo e até constituiu uma afronta aos Faialenses a festa que o Governo Regional mandou promover no aeroporto da Horta para assinalar o início deste novo modelo de transportes aéreos. Até agora a ilha do Faial tem pouco ou nada para festejar!
3. É justo reconhecer que esta situação não é só responsabilidade da SATA. Ela foi provocada pela decisão inaceitável da TAP de abandonar a rota da Horta. Ao decidir fazê-lo, a TAP devia ter dado mais tempo para que as coisas acontecessem de forma menos abrupta. Uma empresa pública não pode, ou não devia poder, abandonar uma rota desta natureza de um dia para outro. Além disso a TAP tinha compromissos assumidos com inúmeros clientes que não honrou devidamente. Isso é tanto mais inaceitável e penalizador quando sabemos que no setor turístico as coisas cada vez mais se programam e vendem com muita antecedência, no mínimo com um ano de antecedência.
4. Perante tudo o que nos está acontecer neste domínio estranho a posição recentemente assumida pelo Presidente do Governo Regional. Há mais de um mês que se sabe que a TAP não ia concorrer às novas obrigações de serviço público para as rotas do Faial e do Pico e que, em consequência, deixaria de viajar para estas ilhas a partir de 29 de março.
Ora o Presidente do Governo Regional esperou exatamente pelo último dia para manifestar “a sua incompreensão pelo facto de a TAP ter abandonado as rotas do Faial e do Pico, considerando que devem ser rápida e totalmente esclarecidas as razões que levam a companhia aérea nacional a tomar esta decisão”. Agora? Depois de TAP ter ido embora? Será que esta posição é só mais um número político para Faialense e Picoense ver? Será esta uma tentativa de desviar as atenções do péssimo serviço que está a ser prestado pela SATA?
5. Entendo que é chegado ao momento dos Faialenses se indignarem. Basta! Não podemos continuar a aceitar que nos atirem areia para os olhos e comprometam o nosso futuro.
Entendo que é chegado ao momento de, governos e partidarites à parte, os Faialenses se unirem e definirem uma pacto de entendimento para defender o Faial. Um pacto que lute contra este caminho que está em curso e que visa o estrangulamento do desenvolvimento do Faial e desta zona do Arquipélago. O retrocesso nas ligações aéreas diretas com Lisboa é uma forte machadada nesse sentido mas não é a única.
Soma a tantas outras: a não ampliação da pista do nosso aeroporto, o atrofiamento do novo molhe do porto, o desmantelamento do Hospital da Horta como Hospital de referência, a saída da Estação Radionaval, a abertura de uma licenciatura em Ciências do Mar que não acontecerá no DOP, o esvaziamento lento e progressivo de inúmeros serviços públicos em benefício de concentracionismos tão nefastos como os que criticamos no Terreiro do Paço, o atraso e o arrastamento no tempo de diversos investimentos essenciais para o Faial.
É tempo de dizer basta!