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1. No final do ano passado escrevi neste espaço que “as novas obrigações de serviço público no transporte aéreo entre os Açores e o Continente mereceram destaque em 2014 mas marcarão seguramente 2015 e os anos seguintes”. Não me enganei e aí estão elas a marcar o nosso dia-a-dia. Um dos aspetos que referi como positivo deste novo modelo foi “a diminuição do preço das passagens”, mas acrescentava que “existem ainda muitas dúvidas por esclarecer e muitos aspetos que necessitam de ser salvaguardados”.

Entre as muitas considerações que fiz recordo uma que me parece muito atual: a de saber e avaliar “as consequências deste modelo na viabilidade das outras gateways dos Açores. Espero que este modelo não tenha sido construído para satisfazer as pretensões antigas de alguns que defendem que, para sair e entrar nos Açores, só deve existir um centro recetor e distribuidor. Se esse é o objetivo, discordo”.

2. Como disse não me enganei! Infelizmente! Por causa deste novo modelo ou em consequência dele, a verdade é que a TAP, que serviu, e bem, o Faial durante cerca de 30 anos, anunciou que vai deixar de voar para o Faial.

Isso corresponde a mais um grande rombo económico e social no Faial e eu fui dos que condenei e continuo a condenar e a discordar desta decisão da TAP.

Contudo, o que eu não sabia é que a saída da TAP do Faial tivesse resultado de um acordo comercial entre esta e a SATA, feito nas costas dos Faialenses e naturalmente com a cumplicidade dos governos da República e da Região. Um acordo que dizem ter sido feito com a garantia de que a oferta de serviço com as gateways do Faial, do Pico e de Santa Maria seria “mantida ou reforçada”.

Mas, a verdade é que, feitas as contas, o Faial é a única ilha prejudicada.

3. As reações e as posições sobre a saída da TAP do Faial, tomadas inicialmente pela generalidade das forças vivas do Faial, foram unânimes e fortes, como exigia a situação.

E agora, que se sabe que, afinal, houve um acordo comercial entre as duas companhias, patrocinado pelos dois governos, esperávamos, em nome da coerência, manter a força das posições e alargar os destinatários das nossas justas reivindicações. Ou seja: para além das críticas à TAP e ao Governo da República, temos também agora de exigir à SATA e ao Governo Regional que cumpram esse acordo e que assegurem ao Faial, pelo menos, a mesma qualidade de serviço e o mesmo número de ligações diretas da Horta com Lisboa.

Mas, para espanto meu, de repente, com a descoberta da existência deste acordo comercial e, por via dele, do envolvimento da SATA e do Governo Regional, de repente, dizia, o tom das críticas e das reivindicações de alguns importantes responsáveis locais diminuiu significativamente. A firmeza da primeira hora deu lugar à vigilância, o protesto veemente deu lugar ao tom macio e moderado e a exigência para que se garantisse o número de ligações deu lugar a um “esperar para ver”.

Não quero acreditar que essa mudança de discurso e de atitude de alguns só tenha acontecido porque agora as nossas críticas e exigências também se têm de dirigir ao Governo Regional. Não quero acreditar que para criticar e exigir ao Governo da República haja, por parte desses senhores, coragem a rodos e, quando temos de fazer o mesmo para com o Governo Regional, a coragem mingue de tal forma que parece roçar a incoerência!

4. Esta mudança de atitude e de postura consubstancia uma capitulação inaceitável e, sobretudo, uma condenável abdicação na defesa do Faial. E esta atitude não defende o Faial por duas ordens de razões. Em primeiro lugar, porque as nossas reivindicações não foram atendidas. Ainda não conseguimos a garantia de manutenção de um serviço de qualidade semelhante ao que a TAP prestou aos Faialenses nomeadamente, manter-se, pelo menos, o mesmo número de ligações diretas entre a Horta e Lisboa. E também ainda não conseguimos horários adequados aos nossos objetivos, nomeadamente ao turismo vindo da Europa.

Em segundo lugar não podemos ficar a “esperar para ver” porque essa postura tem historicamente dado maus resultados ao Faial. Foi assim com a saída da Estação Radionaval. Foi assim com a saída da fábrica de peixe. Foi assim com a negação da promessa da ampliação da pista do aeroporto. Foi assim com a eternização de alguns investimentos que nunca mais chegam como a 2ª fase da variante, as estradas interiores da ilha, os investimentos estruturantes à agropecuária e às pescas, entre muitos outros.

É agora que se tomam as posições e se fazem as exigências.

É agora que se defende o Faial.