Os Óscares da Lavoura – Opinião de António Almeida

Com a eleição recente dos novos corpos sociais da Associação dos Jovens Agricultores Micaelenses não posso deixar de os felicitar, na esperança de que liderem o processo de mudança de mentalidades para um futuro mais digno do mundo rural micaelense.

Foi na passada semana que assisti à realização de mais uma cerimónia da entrega do Prémio Produtor Excelente 2018. Uma iniciativa da Associação dos Jovens Agricultores Micaelenses que visa o nobre objetivo de premiar os produtores de leite de São Miguel com o leite classificado de excelente, o que se traduz, num melhor preço de leite à produção atenta a sua qualidade.

A cada ano que passa o número de produtores com a máxima pontuação aumenta o que traduz o investimento dos lavradores na obtenção da melhor qualidade de leite, e cada vez mais, refrigerado.

Para além de uma palestra sobre Mercados de Lacticínios, ao cuidado do conhecido especialista Dr. Pedro Pimentel, Diretor Geral da Centromarca, uma associação de defesa das marcas originais, assistiu-se à mesa redonda intitulada “Como ultrapassar os desafios dos mercados” um tema com toda a pertinência e atualidade, pois o sucesso da cadeia da produção de leite e lacticínios depende dos mercados onde são comercializados, do comportamento dos consumidores e das industrias e, por consequência, na determinação do preço de leite aos produtores e do respetivo rendimento.

Este momento, supostamente de apresentação e debate, que teve como protagonistas o Secretário Regional da Agricultura, o Presidente da AJAM, o Presidente da FAA, o Presidente da Lactaçores e Unileite, o representante da ANIL e o Diretor Geral da Centromarca, acabaria por não ser conclusivo pois os trabalhos conduzidos pelo jornalista Paulo Simões acabariam, irremediavelmente, interrompidos pela chegada do Presidente do Governo, que usou da palavra, orientado para o discurso político, sobre a aplicação de taxas pelo governo norte americano aos produtos lácteos dos Açores e das referências na realização dos investimentos públicos no setor.

Na verdade, a mensagem passada aos produtores ali presentes pelos protagonistas da mesa redonda foi a da dificuldade dos produtos açorianos em serem valorizados nos mercados onde estão presentes, salientando o preço competitivo como a condicionante para vender bem. Com a agressividade dos concorrentes, ficou evidente que sem uma estratégia de diferenciação, por um lado, e por outro com a permanência nos mesmos mercados, dificilmente acontecerá a valorização dos lácteos açorianos.

Por sua vez, o Secretário da Agricultura, questionado pelo moderador sobre a dificuldade em estar ao lado da indústria ou dos produtores, já que nem sempre estão alinhados, e sobre se devemos produzir mais ou menos leite, respondeu que o governo seguirá aquilo que for o entendimento das industrias e dos produtores.

Fica evidente que o governo não tem objetivos, estratégia e decisão assumida sobre os instrumentos de uma política orientadora para a fileira do leite e lacticínios dos Açores.

Isto sim é preocupante num momento em que está em curso a negociação da Política Agrícola Comum pós 2020, agora pela mão de uma Ministra da Agricultura completamente estranha ao setor agrícola em Portugal.

Só faltou mesmo entregar o Óscar de “Como Estragar Um Debate” a Vasco Cordeiro e o Óscar de “Como Chorar Sobre o Leite Derramado” a João Ponte.