1. O que se está a passar com as ligações aéreas entre a Horta e Lisboa é demasiado grave e prejudicial para esta ilha. Pelo segundo ano consecutivo a SATA Internacional revela uma profunda incapacidade para satisfazer, com regularidade, qualidade e quantidade, o serviço que se lhe exige nesta rota. Algo de muito anormal se passa nesta operação: provavelmente este ano a SATA Internacional já cancelou e desviou mais voos nesta rota do que a TAP em todo o tempo em que operou no nosso aeroporto.
Agrava ainda esta situação a postura de desrespeito e de afronta da SATA Internacional para com este povo que também paga os seus impostos e que tem o direito de esperar que uma empresa pública regional os trate com mais dignidade e respeito.
2. Mas há neste processo nubloso silêncios estranhos que me incomodam profundamente.
Desde logo, o silêncio do Governo Regional. Não é aceitável que este permita que uma empresa exclusivamente detida pela Região se comporte desta forma prejudicando uma ilha. O Presidente do Governo e o Secretário dos Transportes, tão céleres a aparecerem quando é para fazer propaganda, têm de dar a cara e assumir as suas responsabilidades. O silêncio e a falta de atuação do Governo tornam-no cúmplice e legitimam outras interpretações que sustentam que há outro tipo de interesses por detrás desta atuação desastrosa da SATA Internacional nesta rota.
Incomoda-me também o silêncio daqueles que, mesmo com as evidências iniciais que isto estava a começar mal, quiseram ficar “expetantes”. A postura expetante, entre outros, do Presidente da Câmara Municipal da Horta deu nisto que hoje vemos.
Incomoda-me igualmente a atuação subserviente do PS/Faial neste processo. Só falam, tarde e por reação, para criticar aqueles que não são da sua cor partidária e são incapazes de exigir à SATA e ao Governo Regional que atuem no sentido de melhorar o serviço nesta rota.
3. Mas, provavelmente, há razões históricas que ajudam a perceber este comportamento comprometedor e cúmplice do PS/Faial. Avivemos a memória.
Quando muitos no Faial mostravam cautelosamente reservas sobre este novo modelo de transportes aéreo, sobretudo pelas implicações que poderia ter na nossa gateway, o PS local fazia uma conferência de imprensa em que, entre outras coisas, dizia: “O Partido Socialista do Faial realça o extraordinário resultado alcançado para os Açores que resulta do anúncio do novo modelo de Obrigações de Serviço Público para as ligações aéreas entre os Açores e o Continente, apresentado no passado dia 18 de julho pelo Presidente do Governo dos Açores”. E continuava: “no que diz respeito à gateway da Horta, mantêm-se as atuais Obrigações de Serviço Público, correspondendo desta forma às necessidades e anseios dos Faialenses, beneficiando claramente das alterações introduzidas”.
Mas a atuação do PS/Faial não se ficou por aí. Na Assembleia Municipal da Horta, a 30 de abril de 2015, a maioria socialista reprovou um voto apresentado pela Grupo Municipal da Coligação PSD, CDS-PP e PPM, que protestava “pelos impactes negativos que o novo modelo de transportes aéreos está já a ter e pelos riscos que se perspetivam possa causar na dinamização da gateway da Horta”. Nesse voto propunha-se ainda que se comunicasse o seu teor às seguintes entidades:
– “À TAP a dar conhecimento da profunda desilusão e descontentamento pela decisão de abandono da continuação da rota da Horta, o que ofende o grande carinho e apreço que os Faialenses sempre manifestaram pela Companhia;”
– “À SATA a dar conhecimento da profunda desilusão e descontentamento pelos novos horários anunciados que significam um rude golpe na oferta praticada no passado e nas justas expetativas dos empresários desta ilha, ao reduzir-se de forma tão significativa o número de voos e o número de lugares oferecidos e, simultaneamente, exigir que a SATA garanta já neste Verão o mesmo número de voos diretos entre Lisboa e a Horta que se verificaram em 2014;”
– “Ao Governo da República manifestando o veemente protesto por não ter garantido que a TAP, empresa pública, concorresse às novas Obrigações de Serviço Público para as rotas dos Açores e a dar conhecimento para a necessidade de manter no aeroporto da Horta o programa de implementação do Projeto RISE em parceria ou não com a SATA;”
– “Ao Governo dos Açores pela sua não intervenção junto da SATA no sentido de garantir em relação à gateway da Horta, que a mesma mantivesse o mesmo número de ligações diretas a Lisboa que se verificavam em 2014”.
Porque chumbou o PS esta tomada de posição? Apenas para defender o Governo Regional! Percebe-se, portanto, que quem assim procedeu, agora esteja com a consciência pesada. Para estes dirigentes socialistas faialenses o que está sempre em primeiro lugar são os interesses partidários e as ordens dos chefes: o Faial fica sempre em segundo lugar.
O que será preciso mais para que a maioria dos Faialenses, que neles tem votado, perceba que é a atitude e atuação desta gente que nos está a prejudicar e nos está a arrastar para a cauda dos Açores?!

