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Em Julho de 2005, pouco mais de 130 dias após a sua posse, o primeiro governo de Sócrates conhecia a sua primeira baixa. Demitia-se o ministro das Finanças, alegando “motivos pessoais, familiares e cansaço”.

Embora a saída fosse oficialmente justificada dessa forma, era óbvio que esse abandono se devia a um momento de tensão com colegas do Conselho de Ministros. O titular das Finanças, que acabou por abandonar o seu lugar, apresentava-se como “uma espécie de travão no processo de elaboração” de um projeto, o Programa de Investimentos Prioritários, em relação ao qual exigia uma redução dos valores financeiros envolvidos. A partir daí, foi o que sabe. Iniciou-se um caminho que haveria de conduzir o país a um estado lastimável. Seis anos depois, fruto de uma governação manifestamente acima das possibilidades, Portugal acabou por ter de recorrer a credores internacionais. A situação de bancarrota criada por esse governo e pelo que se seguiu, ambos sob a responsabilidade do mesmo Sócrates, assim o exigiu.

Quase onze anos depois, a sina dos “130 dias” atacou novamente um governo socialista. Há pouco mais de uma semana, pouco mais de 130 dias após a sua posse, o governo de Costa conheceu a sua primeira baixa. Demitiu-se o ministro da Cultura, aparentemente obrigado a tomar essa decisão. Desta vez, por motivos completamente diferentes do caso de há onze anos.

Na base da demissão estão umas bofetadas prometidas a cronistas que o tinham criticado. Que exerciam, dessa forma, a sua liberdade.

Segundo o ex-ministro, disse que se demitiu “por razões que têm a ver com a minha profunda solidariedade com o Governo e o primeiro-ministro, e o seu projeto político de esquerda”. E apresentou também “razões que têm a ver com o meu respeito pelos valores da liberdade. Não aceito prescindir do direito à expressão da opinião e palavra“. Quanto às primeiras razões apresentadas, sinceramente, não se percebe muito bem que relação têm com os factos. Parece-nos algo que é mais do tipo “chutar para canto”. O ex-ministro lá o saberá.

Quanto às segundas, também sinceramente, parece-nos ser um absoluto contrassenso. O que esteve na base das bofetadas prometidas foi um profundo desrespeito pela liberdade de expressão. Sendo assim, invocar os “valores da liberdade” e o “direito à expressão da opinião e palavra” é, pelo menos, descabido. Mas o ex-ministro lá o saberá.
O caso está esclarecido e, julgamos que para todos, não podia ter outro desfecho. Mal andaria o país se o referido ministro se mantivesse em funções. Mesmo perante aquilo que outros socialistas em tempos disseram. Um clamando que “quem se mete com o PS, leva” e o outro propagandeando que o que gosta é de “malhar na direita”.

Para a história, fica uma “coincidência”. A dos “130 dias”.

São dois ministros, e dois factos, muito diferentes. Esperemos, pois, que as coincidências acabem por aí.

Mas se é verdade que há onze anos se iniciou o caminho para a bancarrota, agora há um governo que não é de fiar. Até ao momento, apenas soube “destruir” o que tinha sido feito pela recuperação do país ao longo de quatro anos, com muito esforço da parte dos portugueses.