Dia 9 de Março passado, a meio da manhã. Entro num táxi para me levar ao aeroporto, de regresso a Ponta Delgada.
O motorista ouvia o discurso do novo Presidente da República. A posse tinha sido alguns minutos antes. Perguntou se não me incomodava o volume do rádio a um nível mais elevado do que o habitual. Disse que não. Pelo contrário. Até agradecia.
Com efeito, se não estivesse em viagem, e com necessidade de apanhar o avião àquela hora, era o que estaria a fazer. A acompanhar a cerimónia de posse e a ouvir o primeiro discurso do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa.
Finda a viagem de alguns minutos, o discurso chegava também ao fim. Na despedida, o motorista dizia-me: “Este homem é diferente. Acho que vai ser a pessoa certa depois da confusão dos últimos tempos”. Gostei da apreciação.
Já regressado, vi o “filme” do dia. O formato, como se adivinhava, tinha fugido ao que sempre nos habituámos. E fiquei ainda com mais certezas do que aquelas que já tinha quando em Janeiro decidi contribuir com o meu voto para a sua eleição.
Confirmei que seria um Presidente diferente. Extremamente caloroso, sempre atento, muito próximo das pessoas e em permanente interação com todos os que o rodeiam.
Não quero com isso dizer que o seu antecessor não tenha exercido o seu cargo de forma adequada. Nem por sombras. O seu papel foi excecionalmente importante no momento complexo que o país atravessou nos últimos anos. Portugal deve-lhe um enorme agradecimento.
Aliás, não é por acaso que o Presidente Cavaco Silva obteve sempre resultados eleitorais retumbantes e teve a vida política longa que se conhece. Quer como Primeiro-Ministro, quer depois como Presidente da República. As suas maiorias absolutas mostram que mereceu sucessivamente a confiança dos portugueses. E, obviamente, tornam pequeninas as apreciações revoltadas de algumas mentes que, à falta de melhor, lhe dirigiram epítetos que chegaram a ser insultuosos.
Quanto ao Presidente Marcelo, a certeza é que vai ser diferente. De todos os que o precederam.
Começou com o discurso mobilizador que tive a possibilidade de ouvir no táxi, a caminho do aeroporto. Não foi por acaso que terminou com todos os partidos democráticos a aplaudirem de pé. Os outros, ainda que com um ar meio embasbacado, limitaram-se a revelar o seu característico extremismo. Portanto, nada de anormal. É o radicalismo típico de gente de protesto que, pelos vistos, e por conveniência, às vezes também pode ser chamada a “prestar serviço” a quem nem sempre revela uma atitude respeitadora dos valores.
Mas não vamos agora por aí. O tempo do Presidente Marcelo é de “cicatrizar e unir”, como destacava a primeira página de um jornal nacional sobre o seu discurso.
Como já vimos nestes poucos dias, Marcelo Rebelo de Sousa não vai abandonar o estilo que todos lhe conhecemos e que é apreciado. A sua atitude, que vai sendo justamente conhecida como “de afetos”, vai ser fundamental num país que, tendo invertido o caminho da crise profunda que atravessou, tem agora a incerteza de regresso.
É a “pessoa certa”. Como bem dizia, confiante, o motorista do táxi que me transportou.