1. No meu último artigo expliquei os fundamentos e as propostas que os vereadores da oposição apresentaram na Câmara Municipal da Horta para reivindicar do Governo Regional mais fundos comunitários para as autarquias e a alteração dos critérios da sua distribuição pelos municípios. Estas propostas geraram uma deliberação da Câmara da Horta aprovada por unanimidade.
O conhecimento público desta deliberação deu origem a várias reações. O presidente da Associação de Municípios da Região Autónoma dos Açores, apesar de reconhecer a dificuldade, mostrou disponibilidade para discutir a matéria. Mas foi a reação do Presidente da Câmara Municipal das Lajes do Pico que surpreendeu pelo conteúdo e pelo tom. Uma reação absolutamente despropositada.
É verdade que o Presidente da Câmara da Horta cometeu um erro ao apresentar publicamente aquela deliberação pois não conseguiu fugir à tentação de comparar as verbas recebidas pelo Município da Horta com as recebidas pelos Municípios do Pico, numa declaração não só imprudente como desnecessária; mas, apesar disso, tal não justifica a reação do edil das Lajes.
Que este discorde da posição da Horta está no seu direito e eu até compreendo. Que para expressar isso precise de ofender e de apelar ao ressurgir de velhos e perigosos ódios é de todo desnecessário e imperdoável. Foi uma reação própria de quem não tem argumentos válidos e que para se defender precisou de recorrer ao insulto e à demagogia. No fundo, para além deste eterno e doentio bairrismo, que carateriza aquele autarca, o que verdadeiramente terá estado na base desta despropositada reação foram outros motivos, designadamente partidários, e de luta interna no PS, quer na Associação de Municípios da Região Autónoma dos Açores, quer na Associação de Municípios do Triângulo.
2. Este é só mais um exemplo de que o PS/Açores vive um momento crescente de desagregação com problemas internos cada vez mais notórios. Para isso muito estão a contribuir os resultados desastrosos e a falta de pudor da sua governação e a insegura liderança de Vasco Cordeiro.
Mas vamos aos resultados. O PS governa os Açores há 18 anos. Nunca uma governação teve nos Açores tanto dinheiro como esta à sua disposição! Apesar disso, a verdade é que a Região continua no último lugar dos principais indicadores sociais. E isso, infelizmente, não é a minha opinião, são factos!
A Região continua a ser a campeã nacional do desemprego com uma taxa de 16% quando a média nacional se situa nos 13,9%. E o desemprego jovem atinge nos Açores mais de 50%.
Continuamos a ser uma das Regiões mais pobres de Portugal com uma elevada taxa de incidência do RSI, por exemplo, entre os mais pobres: os Açores tinham em 2013 uma incidência de 117,26 beneficiários por cada mil residentes em idade ativa enquanto no Continente esse indicador era de 38,59 por mil e na Madeira de 35,19.
Além disso, a Região lidera também os índices de abandono e insucesso escolar e tem mais de 60% dos alunos a necessitar de apoios sociais. Ainda recentemente na ilha das Flores percebi que cerca de 70% dos alunos beneficiam da ação social escolar.
Perante estes resultados não deixa de ser surpreendente que um candidato a candidato a primeiro-ministro tenha afirmado recentemente que os Açores deviam ser um exemplo para o país. Conhecerá aquele candidato estes resultados? Estará aquele candidato a propor levar para a governação do País este modelo socialista dos Açores de perpetuação da pobreza e de socialização da economia? Começo a dar razão a alguém que me diz muitas vezes que os “socialistas alimentam a pobreza porque se alimentam eleitoralmente dela”.
3. Para além da falta de resultados positivos, esta governação do PS começa a perder todo o pudor, nomeadamente na utilização dos dinheiros públicos. Perante visíveis e crescentes necessidades de muitos Açorianos não deixa de ser absolutamente escandaloso e intolerável constatar os chorudos subsídios que vêm sendo atribuídos para festivais de verão, com a desculpa de que promovem o turismo. Ofensivo!
Essa falta de vergonha é igualmente verificável nas nomeações políticas para o Governo, para as empresas públicas e para a administração regional. Cada vez mais o PS trata a administração pública como se fosse o seu partido ou a sua família. O polvo de interesses é de tal ordem que para além do cartão partidário, o que parece agora contar são os laços familiares. Isto foi bem visível na recente remodelação do governo com a constituição dos gabinetes de alguns dos novos membros. Mas o mais sintomático é que se procurarmos a genealogia desses laços, vamos sempre chegar à mesma origem: ao Presidente Honorário e aos seus próximos. Será que também é esta a “boa governação” a que António Costa se referia?!
Estes são sinais dos tempos. E sinais preocupantes!