Demasiado recatado para o seu gosto, e provavelmente insatisfeito com uma atuação que, por cá, se cinge à penumbra, César partiu há uns meses para uma “abertura de horizontes”.
Dos seus “horizontes”, acima de tudo. Porque nunca foi sua especialidade e vontade dar contributos para que outros atingissem os seus objetivos. Muito pelo contrário. No cenário regional, todos recordam a forma negativa como sempre lidou com quem mostrava qualquer pretensão que pusesse em causa a sua ambição.
Mas a hora é diferente. Por isso, na contenda socialista nacional juntou a sua ambição à ambição daquele que decidiu apoiar. E nem se importa de fazer o papel de sua “dama de honor”, embora mantenha sempre o ar sisudo que lhe é característico quando não se sente bem por não exercer o papel de ator principal. A oportunidade de voltar à ribalta é bem mais importante para si neste momento.
Naturalmente que, por cá, continua a “vigiar” e a exercer o seu papel condicionador. Até arranjou um cargo novo em termos partidários para não perder a mão. Prerrogativas de quem gosta de mandar e tem garantida a resignação de quem julgava que seria seu sucessor.
Por lá, anda envolvido nas intrigas socialistas diárias que vêm a lume. Ora são os militantes que vêem as suas quotas pagas sem disso terem conhecimento. Ou aqueles que até já partiram deste mundo e que, num toque que nem nos atrevemos a caracterizar, ficam com as suas obrigações partidárias regularizadas. Ou os pagamentos em massa que deixam a suspeita de que o processo se encontra inquinado. Tudo isso quando sabemos que quem coordena o processo das primárias é o mesmo que em tempos disse que “quem se mete com o PS, leva”.
Curioso foi o que se passou recentemente na Madeira. César foi abordado pela comunicação social, que sabe que se encontra garantido que nas suas declarações vem sempre à tona o seu estilo mordaz. E assim foi. Lá veio “bernarda”, com crítica declarada aos responsáveis socialistas locais. Escusado será dizer que estes são apoiantes do atual líder socialista nacional que, aliás, há uns meses foi também torpedeado por César nos “jogos” preparatórios que haveriam de redundar no aproveitamento da vitória escassa nas Europeias.
Os socialistas madeirenses, naturalmente, não gostaram. E a reacção não se fez esperar. Integrou termos como “ingerência” e frases como “o partido não será comandado nem por Lisboa nem pelos Açores”. Continha, também, uma declaração esclarecedora do líder socialista madeirense. Disse que César “pode mandar nos Açores, mas na Madeira não manda nem governa”.
Julgamos que deve saber bem do que está a falar. É claro, mesmo para os socialistas, que César é que continua a mandar nos Açores. Vasco, por seu turno, é visto como um “líder de porcelana”. Nem manda no partido, como já se desconfiava, nem no governo, onde Ávila controla.
César, certamente, já rangeu os dentes. Porque o seu estilo é idêntico ao do coordenador das primárias. A fúria, numa altura normal, seria mais do que certa. Mas como gosta que reconheçam que é ele que manda, acreditamos que vai ficar calado.
A vingança, provavelmente, fica para depois!