Ao iniciar-se a segunda metade da legislatura, e com a sociedade açoriana a manter-se em plena turbulência, o governo está à defesa. Justamente agora, quando devia ter uma atitude proativa e assim devolver a esperança perdida aos Açorianos.
Tudo isso acontece porque não existem resultados para apresentar. Ou melhor, existem, mas o governo tem consciência que são maus e sente, por isso, uma premente necessidade de se justificar. Em vez de reconhecer o que está mal, finge que tudo está bem e que se recomenda. Entrou, assim, numa verdadeira espiral de descaramento.
Vão falando do que nem sequer existe. Como se não entrasse pelos olhos dentro, de todos quantos estão atentos à evolução dos indicadores económicos e sociais nos Açores, que os factos descritos são mera retórica. Falam do que sabem não ter correspondência com a realidade, manifestando um completo desrespeito pelas pessoas e pelas empresas, já que minimizam as gravíssimas dificuldades por elas sentidas. Perante as queixas que estas apresentam, revelam-se incapazes de apresentar soluções de facto, limitando-se à sua inscrição no papel. E o papel, como sabemos, aceita tudo.
É esse o descaramento socialista. O que decorre da habitual e irresistível pompa com que o governo propagandeia. O que leva os Açorianos a ouvir os governantes a falar de uma realidade paradisíaca, ao mesmo tempo que se confrontam com realidades dramáticas e sabendo que por fora as coisas vão estando bem melhor. O que decorre, apenas, da sempre bem urdida ação de natureza publicitária em que o governo se especializou. Publicidade que choca, obviamente. Porque pretende esconder aquilo que é sentido generalizadamente.
As pessoas e as empresas sentem-se, por isso, insultadas. Continuam sem ver como e quando voltarão a ter uma oportunidade. Estão verdadeiramente desesperadas. Sabemos todos bem isso, já que qualquer um de nós, se não tem os problemas dentro de casa, assiste ao que se passa na casa ou na empresa ao lado, em todas as ilhas e concelhos dos Açores. Especialmente dramático é, naturalmente, o desemprego. Tendo atingido o máximo de sempre em Autonomia, continua a subir por cá quando está a descer no país há mais de um ano.
Ainda na semana passada, num debate que o PSD/Açores promoveu no Parlamento Açoriano, ouvimos os socialistas a falar como se a Região vivesse numa situação oásica. O registo habitual de negação das enormes dificuldades sentidas pelos Açorianos. Houve, no entanto, um momento perfeitamente patético. Ávila, aquele que verdadeiramente mexe nos cordelinhos do governo regional, disse que o governo pagava a tempo e horas.
Assim, de uma penada. De forma completamente descarada, Ávila desmentiu, do pé para a mão, as queixas recorrentes dos que desesperam à espera que o governo lhes pague. Sabendo que há empresas em agonia porque o governo não paga os seus calotes. Que assim se vêem obrigadas a dispensar colaboradores, engrossando as fileiras do desemprego.
Se não fosse dramático, seria apenas mais uma mentira.
Mas é desesperante para os Açorianos. A mentira, por isso, é insultuosa.
Haja vergonha para tanto descaramento!