A recente polémica sobre um cancelamento da Atlanticoline para a ilha Graciosa, numa viagem programada com o navio Express Santorini, veio por a nu algo que os Graciosenses vêm reclamando e que é limitativo de qualquer estratégia de desenvolvimento: Transportes marítimos regulares e eficazes.
Pode-se sempre justificar um cancelamento com o mau tempo ou com as condições de operacionalidade de um porto mas, no dia em questão, 8 de Setembro de 2014, o registo de vento na Graciosa não ultrapassou, o dia todo, os 30 km/h, o que, convenhamos, não é propriamente mau tempo. Por outro lado, não havia agitação marítima que condicionasse a operacionalidade do porto da Praia na Graciosa.
Então o que terá levado o navio Express Santorini a cancelar, naquela data, apenas a escala na ilha Graciosa, mantendo toda a rota prevista?
Não temos uma explicação concreta, até porque ninguém a produziu nestes largos dias que já nos separam do transacto 8 de Setembro.
É certo que os graciosenses tiveram, durante mais este ano de 2014, muitas razões de queixa sobre a operação da Atlanticoline: São os navios que não vêm à ilha, apesar de prometidos para o grupo central, são horários desajustados que penalizam o turismo e festas de Verão, são o facto de não se poder desembarcar em escala, nem para comprar umas queijadas ou umas meloas, enfim, é um conjunto de insensibilidades para com as necessidades de uma ilha em processo de desertificação acentuado, que levam aos mais variados protestos, que apenas não são acompanhados por quem tem apenas o pensamento no discurso de “ámen” e “aleluia” a tudo o que cheira a mão governamental.
Houve, entretanto, uma tentativa de um reputado deputado, conhecedor destas lides de mar, em justificar aquele cancelamento: O navio Express Santorini em condições de vento previsto de 22 nós (+/- 40 km/h), a correr perpendicular ao porto da Praia da Graciosa, tem grande dificuldade em manobrar, pondo em perigo o navio, a tripulação e os passageiros a bordo.
Bem, está visto que, desde logo, não se verificaram os ditos 22 nós de vento mas apenas cerca de 16. Mas, o mais revelador desta forma de gerir o transporte marítimo de passageiros e viaturas nos Açores, é pagar-se principescamente por um navio que não opera em segurança com ventos de 40 km/h, o que, nos Açores, é algo a que chamamos “aragem”!
Por outro lado, ficou provado, mais uma vez, a programação de operação de transportes marítimos da Atlanticoline que deixa sempre a desejar. Então vejamos: O navio Wind foi à Graciosa umas 4 vezes durante toda a operação, os navios Gilberto Mariano e Mestre Simão nem por perto da ilha foram vistos, mesmo tendo o Gilberto Mariano andado a viajar em portos que não possuem rampas ro-ro, e o navio escolhido para operar no porto da Praia da Graciosa, tem uma tão deficiente manobrabilidade que dificilmente passará o Verão sem uns cancelamentos!
Passou mais um ano em que ilhas como a Graciosa ficam sempre para trás nos projectos políticos de alguém, à espera de um qualquer plano integrado de transportes que, pelo menos, traga alguma melhoria no combate ao isolamento e ao esquecimento.