Um problema só pode ser resolvido se, antes de tudo, for reconhecido. Andar com “paninhos quentes” a justificar que as coisas não estão tão más assim é o primeiro passo para que os problemas se eternizem e se avolumem os efeitos perniciosos que geram sobre as pessoas.
Os Açores têm, há muitos anos, um governo que age dessa forma. Vive à custa de propaganda, amacia no papel os problemas que se vão fazendo sentir e sobrevive permanentemente à sombra de justificações para os maus resultados que vão surgindo.
Os Açorianos, contudo, não ficam melhor com mensagens publicitárias. Precisam de medidas e de soluções. E desesperam, à procura de uma “luz ao fundo do túnel” que teima em não surgir.
A questão do desemprego é paradigmática. Ainda na semana passada, se apenas fossem ouvidas as “vozes do governo”, ficava a ideia que tudo estava bem encaminhado.
Curiosamente, quem se pronunciou, do lado do poder, aparentava estar consciente de que o que dizia estava apenas no papel que lhe servia de apoio. E que este estava desajustado do que é sentido no terreno. Era evidente a sua falta de convicção. Descobria-se, na expressão e na força dos textos que “papaguearam”, que estavam a falar do lado oposto à realidade.
A razão das declarações residiu na leitura dos números do desemprego relativos ao segundo trimestre do ano. Um período em que eventuais melhorias em relação ao trimestre anterior, já o dizem os livros desde há muito, têm uma forte dose de sazonalidade.
Ainda assim, é imperioso que se faça uma leitura honesta. Por exemplo, comparando com o mesmo período do ano anterior. Tal como mandam também os livros que, admitimos, nem todos os que comentaram tiveram oportunidade de ler. Ou que, no caso de alguns, fizeram por esquecer que já os tinham lido.
E o que se conclui?
Que os Açores, como uma taxa de 16%, mantêm o mesmo nível de desemprego que se atingia um ano antes. E que, consequentemente, não se faz por cá sentir a clara tendência de redução do problema que existe a nível nacional, em que a taxa de desemprego desceu de 16.4% para 13.9%. E que a taxa nacional, que era superior, está agora dois pontos percentuais abaixo da açoriana.
E conclui-se também que a taxa de desemprego nos Açores é a mais elevada entre todas as regiões do país. Assim como se conclui que, no espaço de um ano, em todas essas regiões é inferior o número de desempregados nelas residentes. Nos Açores, pelo contrário, há mais 511 Açorianos desempregados do que havia há um ano atrás.
Tudo isso com a austeridade a fazer-se sentir por cá da mesma forma. Ou, mais ainda, e como dizem os socialistas, com a crise a sentir-se menos por cá. Dizem eles que se deve às medidas de compensação tomadas pelo governo regional.
Perante este cenário negativo, é lamentável declarar que as coisas estão a melhorar, como dizem os “publicitários” do governo regional. A insensibilidade não pode ser o modo de justificação da sua incapacidade na recuperação da economia açoriana.
Haja respeito pela situação socialmente degradada em que se encontram inúmeras famílias açorianas, depois de terem visto o desemprego entrar dentro das suas casas!