Decorria o ano de 2003 quando a União Europeia decidiu abolir o regime de quotas leiteiras, a partir de 2015.
Passaram 11 anos desde que se sabia que as quotas leiteiras teriam o seu fim já no próximo ano.
A Região, entretanto, foi passando ao lado de pensar como seria o mercado, a produção, a valorização e o futuro do leite e da agricultura, em geral, nos Açores.
Durante todo este tempo, muitos milhões vieram para os Açores e muitos foram gastos sem que se veja uma qualquer espécie de estratégia ou modelo de como serão os Açores Agrícolas no pós quotas leiteiras.
Passou um PRORURAL e outros tantos instrumentos de apoio, mas a verdade é que, a um ano da abolição das quotas leiteiras, ainda não existe noção do seu verdadeiro impacto nos Açores, apesar de todos os entendidos e intervenientes saberem e dizerem que muito irá mudar e de que os tempos não serão favoráveis à Região.
Entre 2003 e 2004 Vasco Cordeiro foi Secretário Regional da Agricultura e desde essa altura que tem andado em todas as reuniões do Conselho do Governo.
Não pode pois este “novo” Governo PS, deixar de ser o principal responsável pela incerteza que se vive na agricultura açoriana.
Uma incerteza gera sempre mais dificuldades do que soluções, e à medida que passaram estes 11 anos, sem que este Governo tivesse tomado medidas ou promovesse respostas, essas estratégias inexistentes ficaram reduzidas a uma dúvida persistente: E agora?
Agora os Açores vão andar a tapar os buracos, entretanto abertos e escavados pela inércia governamental, sempre mais preocupados em satisfazer interesses circunstanciais do que em tomar as rédeas do problema e a orientar um novo modelo que fizesse frente a uma nova, e mais do que anunciada, realidade.
Mas se na questão do fim das quotas leiteiras o actual Presidente do Governo tem responsabilidades acrescidas, no capítulo do desenvolvimento da agricultura dos Açores e no desenvolvimento, em geral, das ilhas no campo produtivo, o Governo e o PS têm-se tornado guardiões do tempo perdido, sem ver que os Açores continuam a importar produtos que podem e devem produzir mas que, por via da ausência de um mercado interno, continuam a fechar-se as ilhas sobre si mesmas, ignorando oportunidades que estão bem próximas.
Podemos sempre questionar o que seria se S. Miguel, com metade da população dos Açores, pudesse pensar a sua produção para o dobro dessa população que são os Açores inteiros? E podemos sempre questionar o que seria se uma ilha como a Graciosa, em vez de continuar a ter um mercado de 4 mil habitantes, pudesse produzir a pensar num mercado de 80 mil cidadãos que tem o grupo central ou de 250 mil – o nosso mercado interno.
E se, quando muitos pensam os transportes no plano do turismo e dos passeios inter-ilhas, muitos outros os pensam em termos de, também, criação de riqueza por via da produção de bens transaccionáveis, é pena que o tempo vá passando e no Governo dos Açores se continue a pensar, apenas, no tempo perdido!