Não foi preciso muito tempo. Dois dias depois da nossa reflexão da semana passada aconteceu, mais uma vez, o que deu mote para a abordagem dessa crónica. Voltou a ficar evidente a enorme distância existente entre o discurso de quem governa os Açores e o que sente o povo açoriano.
Pela voz do governante, todo poderoso, Sérgio Ávila, veio novamente a terreiro a habitual loa das finanças públicas saudáveis.
Carregadas de chorudos meios, com uma gestão sem nódoa que lhe possa ser apontada, que não penalizam as contas nacionais, que permitem pagar tudo, a todos, no tempo adequado. Não deixam ninguém em maus lençóis, quer se trate de pessoas, quer de empresas.
Entretanto, tal como dizíamos há uma semana, as pessoas, fazendo perdurar a reação certamente atónita que já se viram obrigadas a adotar, voltaram a não sentir a boa onda que o Governo Regional mais uma vez publicitou. Diga-se de passagem que essa propaganda a que o governo habituou os Açorianos é, na maioria das vezes, transmitida por essa mesma voz. Só na semana passada, que nos lembremos, aconteceu pelo menos duas vezes. Com o propósito que anteriormente referimos, assim como para repetir, pela enésima vez, que é excelente a aplicação que o governo faz do dinheiro que a todos pertence.
Diga-se ainda que a voz em causa é a de quem, no governo, assume a quase totalidade das responsabilidades. Por força de uma orgânica governamental que se ajustou à personagem, em vez de ser concebida para resolver os dramáticos problemas da sociedade açoriana.
O que é certo é que veio novamente o discurso das maravilhas que os Açorianos desconhecem. Mas deve dizer-se que, desta vez, algo inesperado aconteceu. Inesperado, mas relevante. E até, diríamos, insólito. Reconheça-se, contudo, que o “inesperado” restituiu a verdade.
Amargurado pela omnipresença de Ávila, que lhe tolhe os movimentos e não o deixa assumir maior presença mediática, Vasco Cordeiro deixou, nos últimos dias, alguns rastos de protagonismo. Maiores do que aqueles que têm caracterizado o seu mandato de cerca de ano e meio.
Foi assim que entrou no domínio dos malfadados e recorrentes atrasos de pagamento que têm caracterizado a postura do “pagador-governo” ao longo dos tempos mais recentes. Atrasos de meses e meses, ou até de mais de ano, se não quisermos exagerar. E Vasco, contrariando o que o seu Vice sempre tentou fazer passar, admitiu que sim, que há atrasos.
Disse, textualmente, que “há setores na área da esfera pública em que precisamos de fazer mais e melhor… inclusive em termos de prazos de pagamento”. Catrapum! Foi por água-abaixo a farsa com que Ávila disfarçou a realidade.
Será que é agora que o Governo Regional, e os socialistas em geral, começam a reconhecer que há problemas? Será que é desta vez que o Governo Regional, e os socialistas em geral, começam a mudar o discurso e a falar verdade aos Açorianos?
Se assim acontecer, então não há quem tenha razões para não concordar com o que disse o Presidente do PSD/Açores, numa entrevista saída há uma semana neste jornal: “Se eu fosse Vasco Cordeiro, não tinha colocado os Açores nas mãos de Sérgio Ávila”.