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Os indicadores estatísticos são poderosos. Permitem acompanhar a evolução das economias e das sociedades em geral. Mas exigem cautelas de análise, designadamente quando esta se destina a públicos mais vastos, não necessariamente formados por especialistas nesta ou naquela matéria.

Na maioria dos casos, estão em causa as pessoas. E, por isso, reduzir tudo a uma análise fria, assente apenas nos números, sem o cuidado de fazer a sua ligação ás características do fenómeno, é perigoso. Pode conduzir a avaliações insensíveis. Faz esquecer as pessoas visadas e, afinal de contas, não se analisa o que verdadeiramente está em causa.

Dizer, por exemplo, que o desemprego nos Açores é de 17.3%, é curto. Fazer acompanhar a percentagem com a referência de que existem 21 mil desempregados nas nove ilhas açorianas, melhora a percepção do problema social instalado na Região. E pode-se ir mais além e constatar que cerca de 20% dos lares açorianos têm esse problema dentro de portas.

Do conjunto, podemos concluir que essa verdadeira chaga social está a levar a que muitas famílias estejam a viver uma fase de enorme preocupação, com falta de rendimentos que não permite satisfazer necessidades essenciais a qualquer ser humano. Basta ver que uma em cada cinco casas nos Açores tem uma pessoa que se encontra desempregada.

Naturalmente que os políticos também não ajudam, muitas vezes, a que as estatísticas sejam devidamente compreendidas pela população.

Desde logo, porque existe a tendência, por parte das forças da oposição, em dar relevo essencialmente ao que corre mal.

Convenhamos, no entanto, que, nos Açores, não tem sido essa a atitude nos anos mais recentes. Face á violenta crise que se encontra instalada na economia açoriana, tem sido extensa e assumida a disponibilidade da oposição para acompanhar os esforços que o governo teoricamente está a desenvolver para ultrapassar os enormes problemas existentes.

Do lado dos governos a tendência é a inversa. A de valorizar apenas o que vai correndo bem. No caso dos Açores, o Governo Regional tem sempre uma dificuldade incrível em admitir maus resultados. Até neste tempo de dificuldades, em que deveria ser adotada uma atitude realista, tudo está num perfeito mar de rosas. Ao arrepio do que as pessoas vão sentindo.

Também à comunicação social cabe um papel fundamental no esclarecimento dos Açorianos. Mas nem sempre está alinhada naquilo a que dá destaque. Ainda nos últimos dias, quando saíram os números do turismo relativos a Fevereiro, que vieram revelar uma descida no número de dormidas que interrompeu vários meses de subida, nem todos valorizaram esse facto.

Houve quem optasse por dar relevo ao ligeiro aumento dos proveitos nesse mês, ainda que o conjunto dos dois primeiros meses do ano aponte para níveis inferiores aos do ano anterior. No mínimo, foi criada confusão a quem obteve a informação através de vários órgãos.

É fundamental, assim, que à análise humanizada dos números se alie um esforço de todos aqueles que transmitem mensagens à sociedade açoriana. É que o importante é mesmo que as pessoas estejam devidamente informadas.