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1. Sempre acreditei e defendi que o desenvolvimento harmonioso e integral das nossas ilhas é a melhor resposta para orientar o nosso modelo de desenvolvimento, permitindo que todas as ilhas sejam tratadas com igual dignidade, justiça e equidade e procurando sempre conciliar ritmos individuais de crescimento, sem que nenhuma ilha atrase a outra, mas também sem que nenhuma fique para trás.

Só assim se constrói, no respeito pela diversidade e pelas especificidades de cada ilha, a unidade dos Açores e se reforça a nossa Autonomia.

Infelizmente este não tem sido o caminho percorrido pela governação socialista de quase 18 anos. O PS quando ganhou as eleições em 1996 tudo fez para acabar com aquele que era um dos principais alicerces da nossa Autonomia: o desenvolvimento harmónico e integral de todas as ilhas. Diziam que este conceito era um chavão velho e desadequado à nossa realidade.

O resultado desse modelo, então apelidado de “nova Autonomia”, está bem à vista com a maior e mais profunda crise económica e social da Autonomia e com trocas de acusações entre ilhas com uma linguagem como há muito não se via e ouvia na Região.

2. E o que falhou de fundamental nesse modelo de desenvolvimento? Falhou a coesão territorial, social e económica dos Açores: das suas nove ilhas.

A grande verdade é que passados quase 18 anos e gastos muitos milhões, esta governação socialista acentuou as assimetrias no desenvolvimento das nossas ilhas. E, pelo caminho, ainda criou o conceito das “ilhas da coesão”, embora nunca sabendo bem o que fazer com ele, a não ser institucionalizar que é “normal” e até “benéfico” haver ilhas de primeira e ilhas de segunda.

Esta institucionalização apenas serviu para fundamentar a alteração do modelo de desenvolvimento económico e social dos Açores para permitir e alavancar o desenvolvimento de umas poucas ilhas e deixar as outras para trás.

Ou seja: a preocupação socialista nunca foi as ilhas da coesão, a verdadeira e única preocupação sempre foi a de desenvolver as ilhas maiores, sobretudo, as mais populosas, por mero interesse eleitoral. Mas, como agora se constata, nem isso conseguiu!

3. Os dados dos censos de 2011 e os do PIB por ilha publicados pelo Serviço Regional de Estatística são bem reveladores do quanto este modelo de governação falhou em termos de coesão regional. E são cada vez mais as vozes que se juntam e confirmam este desastre.

Recentemente foi o histórico socialista Dionísio Sousa que referiu que a “Autonomia dos Açores não está a resolver assimetrias entre as ilhas”. Outro socialista insuspeito, Cunha de Oliveira, também já expressou a opinião de que “a prova de que ainda não há nos Açores desenvolvimento harmónico é o retrocesso populacional” e ainda acrescentou que “não duvido que o atual sistema autonómico esteja em vias de colapso”.

O economista Nuno Martins comentando os números do PIB divulgados pelo Serviço Regional de Estatística, que dão nota que quase só S. Miguel tem crescido, referiu que “isso é bom para S. Miguel e mau para as outras ilhas, em termos muito simples. Se partimos do pressuposto que uma Região deve ter alguma coesão, é algo muito negativo. Pode haver quem defenda que se uma ilha conseguir, por si só, trazer mais crescimento do que todas as outras, que assim seja… Mas a mim parece-me que o crescimento não é um objetivo em si, mas que serve, isso sim, para dar mais condições de vida às pessoas”.

4. Portanto, a prova de que este modelo está a falhar naquilo que é fundamental para a unidade e desenvolvimento dos Açores, não é apenas uma crítica política deste ou daquele partido, é a constatação de muitos outros atores da nossa vida social e económica, que têm a coragem de assumir em público e em voz alta aquilo que é óbvio e evidente.

A recente troca de acusações, acesa e virulenta, entre responsáveis e articulistas da Terceira e de S. Miguel, foi mais um episódio preocupante que ilustra a falência do modelo de desenvolvimento socialista: a receita repetida em todos estes anos de atirar milhões aos problemas deu agora lugar ao triste e real aforismo de que…em casa onde não há pão, todos ralham e … neste caso, alguns têm razão!