O Vice-Presidente do Governo, Sérgio Ávila, ficou a apenas umas décimas de anunciar de novo um superavit nas contas regionais de 2012.
Não obstante estas décimas, o titular das finanças regionais não deixou de se rodear de elogios em causa própria, qual mago em finanças públicas.
Apesar de metade do orçamento regional ser resultado de transferências exteriores, da região ser cada vez mais dependente, e mesmo com a necessidade de ter assinado um acordo de resgate com a República para conseguir crédito e saldar algumas dívidas, o responsável das finanças regionais lá vai sorrindo, perante a sua capacidade de fazer os outros acreditarem que é graças a um rigor extremo que os Açores são exemplo de credibilidade nas contas públicas.
Por coincidência, a conta regional que levou Sérgio Ávila a quase anunciar um novo superavit é referente ao ano em que o Governo Regional assinou um acordo com a República para um empréstimo de 135 milhões de euros!
Perante os olhares embevecidos de todo o seu séquito, Sérgio Ávila lá vai embrulhando números e servindo contas à medida da sua glória pessoal, sem sequer reparar que à sua volta se desmoronam empresas, empregos, e, em geral, a economia.
Quando observamos que o Governo e o seu poderoso Vice conseguem fazer uma festa para celebrar as boas contas regionais, torna-se incompreensível que o Partido Socialista possa fazer estrondo com a suposta saúde financeira da região, quando aumentam as dificuldades de muitas empresas por falta de pagamento de entidades públicas.
Essa mesma região em que pessoas que não recebem salário, porque a instituição para quem trabalham não recebe os pagamentos devidos pelos hospitais do serviço regional de saúde, têm de esconder a cara e distorcer a voz para reclamar os seus créditos, só mesmo o Governo e o PS podem acreditar que tudo vai no bom caminho.
Por cá, abundam os subsídios sem cobertura legal, e as sucessivas violações das recomendações do Tribunal de Contas, mas nada disso coíbe o Governo, à imagem do seu Vice, de iludir quem o ouve, acenando com a magnificência do seu imaculado magistério.
Toda a encenação das virtudes contabilísticas de Sérgio Ávila lembrou-me o conto de Hans Christian Andersen, em que um aldrabão diz a um rei que podia fazer uma roupa que apenas as pessoas mais inteligentes a poderiam ver.
O rei, cheio de si, gostou da proposta e encomendou a roupa especial. O artesão, recebendo vários tesouros, fingiu tecer fios invisíveis, que todos diziam ver para não parecerem estúpidos.
O rei resolveu desfilar, pela cidade, vestido com as roupas que nem o próprio via, portanto, como veio ao mundo, tendo uma criança, com a sinceridade própria da idade, sido a única a gritar: “O rei vai nu!”!
Nos Açores vestem-se os anúncios do Governo de virtudes que só os próprios vêem, mas a verdade é que aumentam os que gritam a nudez do regime!