1. Há dias vi no Telejornal uma notícia relativa aos atrasos nos pagamentos dos salários dos trabalhadores da Casa de Saúde de S. Miguel. A RTP/A falou com trabalhadores daquela Instituição que, com a cara escondida e com voz distorcida, deram testemunhos arrepiantes sobre a sua situação.
Um deles dizia que “estamos a falar de uma Instituição em que existem casais que trabalham aqui e outras pessoas cujo colaborador é o único elemento do agregado familiar com rendimento, portanto, há situações bastante gravosas, pessoas que inclusivamente já não têm dinheiro para comprar alimentação, (…) pessoas que já não conseguem ir ao supermercado, pessoas que estão com dificuldades em virem trabalhar por causa dos transportes, seja transporte público ou mesmo para abastecerem o seu carro, há pessoas que também já têm esta dificuldade, e infelizmente nem todas têm suporte, se alguns ainda conseguem socorrer aos pais e a outros familiares, temos conhecimento que há familiares que estão a adiantar dinheiro para fazer face a essas despesas, há outras que infelizmente não têm onde se socorrerem e estão a passar por muitas necessidades”.
A RTP/Açores adiantava que as dificuldades da Casa de Saúde de S. Miguel se deviam a atrasos de pagamentos por parte do Governo Regional, pois a Instituição tem um acordo de cooperação com a Região estando, naquela data, por receber cerca de um milhão e setecentos mil euros.
Relatava a jornalista que a última fatura paga a 90 dias tinha acontecido no longínquo mês de Abril de 2011, daí para cá a “situação tem vindo a agudizar-se”. O responsável pela Instituição ilustrava bem essa realidade: “recebemos uma fatura em setembro, em outubro não recebemos nada, em novembro não recebemos nada, recebemos uma fatura em dezembro após denúncia na Comunicação Social pelos trabalhadores, recebemos uma fatura em janeiro após denúncia na Comunicação Social dos trabalhadores, em fevereiro não recebemos nada e hoje dia 11 de Março nada recebemos” e reconhecia que tinha dívidas a fornecedores “que se acumulam há 7 e 8 meses”.
Transcrevo parte desta notícia porque ela é um bom exemplo das dificuldades que as pessoas, as instituições e as empresas atravessam e, neste caso, por causa de atrasos de pagamentos da Região.
2. No dia seguinte à divulgação desta notícia assisti no Parlamento ao debate sobre a conta da Região de 2012. Parecia-me que estava noutro mundo! O Vice-presidente do Governo não tinha adjetivos para elogiar a situação financeira da Região.
Para o “verdadeiro” presidente do Governo, a Região não tem problemas financeiros e até “estes resultados são melhores do que os que estavam previstos no orçamento da Região para 2012”. Mas o “homem do Superavit” não se ficou por aqui e já foi anunciando “que fechámos o ano de 2013 ainda com melhores resultados”. Para o Vice-presidente a gestão financeira da Região é um exemplo para o País e provavelmente para o mundo.
Perante este mundo de maravilhas do Governo a pergunta impõe-se: se as finanças regionais estão assim tão boas porque não paga a Região o que deve? Porque não paga, a tempo e horas, à Casa de Saúde de S. Miguel e a tantas outras instituições e empresas que se queixam de atrasos nos pagamentos do Governo?
3. Estes dois exemplos – a situação da Casa de Saúde de S. Miguel e o debate parlamentar da conta da Região de 2012 – dão bem a nota dos dois mundos em que vivemos nos Açores: um cor-de-rosa pintado pelo Governo e um outro bem mais negro vivido pelos açorianos.
Nestes exemplos está bem patente uma contradição flagrante entre os “Açores das maravilhas” propagandeado pelo Governo Regional e os “Açores reais”, onde imperam as dificuldades que muitos açorianos, muitas instituições e muitas empresas passam todos os dias, só porque esse mesmo Governo não paga as suas dívidas.
4. Uma nota final para saudar a reabertura do Hotel Horta. Porque aquele hotel faz falta ao Faial e ao nosso desenvolvimento turístico. Pelos postos de trabalho que vai criar. E porque essa reabertura é protagonizada por um empresário faialense. Parabéns e votos de muito sucesso!