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Em 40 anos de autonomia nunca a democracia dos Açores viveu momentos de fragilidade como actualmente.

Conhecem algum regime em que o partido maioritário, ao fim de 17 anos, desprestigie o parlamento como o faz o PS, embrenhado em teses de sobrevivência política mais ou menos maquiavélicas?

Nunca, como agora, se pensou que fosse possível, num sistema político assente no regime parlamentar em que os eleitores escolhem deputados, de onde depois emana a governação, que o parlamento, após um acto eleitoral, passasse a ser alvo do descrédito e desprestígio provocados pela própria maioria, sob orientação de um partido que estrangula toda a sociedade e manipula os seus representantes, que até deveriam ser os representantes do povo.

Não deixa de ser uma mutação da democracia o modelo tentacular em que sobrevive politicamente o partido maioritário que necessita de vulgarizar e manietar a actividade parlamentar para reduzir as oposições, logo as alternativas, e, assim, dominar a sociedade e obter sucesso eleitoral.

Isto acontece porque o poder deixou de emanar do parlamento e mudou-se para uma sede partidária!

Se pensarmos que a virtude do sistema democrático é a possibilidade de alternância política e a impossibilidade de perpetuação no poder de uma ideologia ou de um sistema de governação, a transformação do parlamento em marionete do partido maioritário, a par da dominação da economia, das empresas, dos serviços da administração, e do controlo financeiro das associações cívicas, só pode significar que a democracia dos Açores é outra coisa qualquer, mas não um sistema onde os representantes eleitos exercem o seu mandato para lá do simples acto da sua eleição.

O próprio partido maioritário faz gala de esgotar no acto eleitoral o exercício do direito de oposição e, depois das eleições apenas conta uma vontade emanada de um directório partidário com quase duas décadas de poder!

Mas para ter efeito a falta de questionabilidade de qualquer decisão tomada é necessário anular a única fonte de contraditório e o parlamento torna-se vítima de uma maioria acéfala ou, no caso dos Açores, tricéfala!

A demonstração mais evidente da ausência da virtude democrática do regime criado pelo PS nos Açores é dada pela votação de uma falsidade democrática sem qualquer pejo ou pudor, simbolicamente acompanhados por um partido que não governa em país nenhum que goze das liberdades democráticas!

A compor o cozinhado de um sistema político dominado por um partido espartilhado por chefias que se batem por poderes circunstanciais, o regime vai-se dando ao luxo de rasgar o seu contrato eleitoral, dando o dito por desdito e trocando compromissos, renovando expectativas.

Afinal, nos Açores, o verdadeiro compromisso assumido é o compromisso do poder. Maquiavel não o imaginaria melhor!