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O episódio do referendo sobre coadoção e adoção, que ocorreu há semanas na Assembleia da República, originou reações díspares sobre as quais vale a pena refletir. Foi um momento esclarecedor, em que se evidenciaram diferentes formas de estar na atividade política.

Atentemos em duas reações que nos ficaram na memória. Com abismais diferenças entre ambas, foram exemplares por motivos completamente distintos.

Uma, em nosso entender, nada mais fez do que aproveitar a oportunidade para mandar “tiros” em diversas direções. Para o efeito, juntou ingredientes que nada têm a ver com o facto em si, mas sim com a luta política que se trava no dia a dia. Ainda sem sabermos a que assunto se referia, visualizámos duas citações no rodapé de um canal de notícias nacional, de alguém que tinha dito que “quando a crise ataca todos, o PSD ataca famílias e crianças”. Considerava também que o facto era “indigno e nojento”.

Chamou-nos especialmente a atenção a linguagem feia. Quando nos apercebemos do tema que tinha suscitado as declarações, a curiosidade mais nos assaltou. Cheirou-nos a tirada teatral. Nada mais do que isso.

Tentámos saber de quem era. Pertencia a um dos “cérebros” da liderança bicéfala nacional de um partido de esquerda com características extremistas.

Batia certo com o que pensámos. A autora da teatral declaração, segundo pesquisámos, é atriz. E se as declarações eram normais, face à sua condição profissional, eram perfeitamente inaceitáveis no contexto político. Ser atriz é uma nobre função. Mas para a política, não basta. Não vale tudo.

Do lado oposto esteve a reação do Presidente do PSD/Açores.

Sendo também “contra a realização de um referendo sobre coadoção e adoção de crianças por casais do mesmo sexo”, disse ainda que o entristecia o processo em causa, já que “não é o momento para estarmos a esbanjar energias e dinheiro em referendos inconsequentes e inúteis que não vão resolver os problemas dos açorianos e dos portugueses” ou “salvaguardar a proteção das crianças”.

Referiu também que “havia um processo legislativo que decorria no parlamento e que devia ter seguido o seu caminho” e que o importante era garantir a proteção das crianças sem “misturar com isso questões de orientação sexual e acessórias”. Por isso, considerou que o projeto aprovado com os votos do PSD no parlamento nacional foi “um desrespeito pelo processo que decorria na Assembleia da República” e “só contribuiu para o descrédito da classe política”.

A uma posição descabida, insultuosa e até desonesta contrapôs-se outra que é realista, serena e plena de preocupação pelos problemas das pessoas. É uma questão de ADN, diríamos.

Mas há outra linha de reflexão. É a de mais uma vez ter ficado evidente que o PSD/Açores não tem por hábito a defesa, a todo o custo, da “dama nacional” do PSD.

Neste caso, colocou em primeiro lugar a defesa dos interesses das pessoas. Em outras situações, que aliás referimos recentemente nesta coluna, os interesses açorianos foram sempre mais importantes do que a fidelidade partidária.

A submissão às posições nacionais do partido não está, também, no ADN do PSD/Açores.