Dizia Sérgio Ávila há dias: “é possível uma via açoriana onde se concilie o equilíbrio das finanças públicas com uma política orçamental que aumente o investimento público e o apoio às famílias e empresas açorianas”.
Nesse mesmo dia, os pescadores dos Açores davam largas ao seu desespero, tal a carência que se vive numa classe dependente crónica dos humores do mesmo Sérgio Ávila, ou não fosse ele o imprescindível facilitador de todas as rubricas orçamentais.
Esta via açoriana de que fala o gestor do modelo pode até ser possível, mas se estamos a falar de uma via em que 54% dos agregados familiares estão no primeiro escalão de rendimentos e 13% no segundo, de acordo com os dados das finanças do ano de 2011, então não deve ser muito difícil gerir um orçamento de 1000 milhões de euros.
Difícil mesmo é perceber-se para onde vai o dinheiro, e o que é que ele representa para os açorianos, já que mais de 70% vive com rendimentos que, se dispensados de apoios sociais, os colocariam abaixo do limiar da pobreza.
Mais difícil ainda é conciliar esta via açoriana personificada na figura do Vice e o anúncio da colocação temporária de mais de 5000 desempregados em trabalhos ocupacionais que nem mesmo assim disfarçam o engrossar do desemprego, em especial do desemprego jovem.
Esta é a versão de uma via açoriana em que, apesar de todos conhecerem algum jovem que imigrou recentemente à procura do futuro que lhe é negado na sua terra, os senhores da posição continuam a desfazer-se em auto-elogios, numa atitude celebrizada pelo antigo ministro dos negócios estrangeiros do Iraque aquando a invasão do país, sem sequer se saber quantos são esses jovens açorianos que abandonam as suas ilhas e os Açores.
E disso se vangloria o maior responsável executivo, abençoado pelo Presidente do Governo.
A via açoriana real e ladrilhada pela betoneira dos governos PS proporciona momentos de verdadeira comédia política, que só não tem graça nenhuma porque ela é causa de autênticas tragédias humanas. Mas depois de assistir ao líder parlamentar do PS Açores a elogiar esta via que trilha com os seus camaradas, tecendo loas ao novo modelo de financiamento das IPSS, para logo de seguida ver um responsável de uma IPSS, acabada de visitar, extasiado por uma oferta de pescado apreendido pelas autoridades que lhe ia poupar uma semana de peixe, queixando-se, entretanto, de como a vida das IPSS está muito complicada, não pude deixar de sorrir com a ironia que fez abater sobre o palavreado oficial a dura realidade, que é esta via em que nos meteram.
Foi caso para dizer: Falam, falam, falam, e eu não os vejo a fazer nada!