1. A requalificação da frente mar da cidade da Horta é uma intervenção verdadeiramente estruturante para o desenvolvimento da cidade e da ilha.
Daí a necessidade de se definir uma estratégia global, integrada, bem pensada e cuidadosa. Uma estratégia que permita que esta intervenção potencie o valor da nossa baía, reforce a nossa relação com o mar, fortaleça o nosso cosmopolitismo, liberte a Avenida de tantos carros e trânsito, disponibilize mais espaço para as pessoas e permita a criação de novas oportunidades de negócio e de animação.
Sem uma visão de conjunto corremos o risco de continuarmos, como tem acontecido na Avenida Marginal, com pequenas intervenções desconexas, parcelares, que gastam dinheiro mas que nada requalificam e potenciam.
2. É essa a minha maior preocupação: se existe ou não uma visão de conjunto de toda a intervenção que se está a preconizar na nossa frente mar.
A intervenção na nossa frente mar é um projeto complexo e sensível que tem de se articular bem com outros investimentos, nomeadamente com a obra do saneamento básico, com a segunda fase do reordenamento do porto, com a segunda fase da variante e com o plano de reordenamento do trânsito e estacionamento da cidade. Tudo isso tem de estar bem articulado, harmonizado e planeado.
Já coloquei esta preocupação em reunião de Câmara Municipal e infelizmente não obtive respostas clarificadoras. Também na apresentação pública dos trabalhos de conceção do projeto de requalificação da frente mar não fiquei esclarecido.
Estranhamente não ouço neste processo nenhuma palavra sobre o saneamento básico da zona a intervencionar. Constato que aparentemente há intervenções sobrepostas entre a programada segunda fase do reordenamento do porto e a agora proposta para a frente mar, designadamente no Largo Manuel de Arriaga.
Com o sucessivo adiamento da segunda fase da Variante não percebo como se libertará trânsito da cidade nomeadamente o de pesados. Nem fico esclarecido onde se colocam os carros normalmente estacionados que se querem, e bem, retirar da Avenida.
3. A estas preocupações somo uma perplexidade. É evidente que o sucesso desta intervenção designadamente na avenida marginal está muito dependente da reabilitação urbana do edificado que requer o envolvimento dos proprietários, como referiu na apresentação pública o responsável pela proposta vencedora do concurso de ideias.
Basta olharmos para a parcela do investimento que atribuiu a essa reabilitação: cerca de 17 milhões de euros e 5 milhões para a intervenção nos espaços públicos. Sem ainda se perceber quem financiará esta intervenção, havendo dinheiro, o mais fácil é intervir nos espaços públicos.
O difícil é conseguir o envolvimento ativo dos privados. Quando interrogado pela comunicação social sobre como envolver os privados neste processo e que incentivos seriam criados, o presidente da Câmara respondeu que ainda é cedo para falar nisso! Cedo para falar de uma componente decisiva desta intervenção? Eu diria que não é cedo, é urgente! Ora, se o sucesso desta intervenção depende do envolvimento e participação ativa dos privados eles têm de estar envolvidos desde o início.
Se a esta resposta do presidente da Câmara somarmos outra de que “este projeto marcará os próximos 50 a 100 anos da cidade da Horta” talvez encontremos respostas para algumas das preocupações que aqui expressei. Afinal qual é a pressa!