Esta noite, para muitas famílias açorianas, vai ser menos alegre do que é costume. Para algumas, isso vai acontecer este ano pela primeira vez. Em muitos outros casos, repete-se o que já se passou em anos anteriores.
E esta deveria ser uma noite inteiramente livre de preocupações. Uma noite em que a mesa, pelo menos por um dia, tivesse a fartura que não se consegue nos outros dias do ano. É assim que, desde sempre, encaramos a noite de Natal. Mas alguns já sabem que, infelizmente, não vai ser essa a realidade.
E não é por uma questão de opção. Ou até pode ser uma opção, mas certamente que não é a desejada. É uma opção condicionada. É uma opção imposta pela situação atual de muitas e muitas famílias açorianas.
E são especialmente as famílias em que o desemprego entrou dentro de portas que não têm possibilidade de festejar esta noite como habitualmente acontecia. Quer porque a disposição não é muita, em função da desesperança instalada depois de vários meses à espera de uma solução, que não chegou e não se vislumbra que possa chegar oportunamente. Quer pela insuficiência, ou mesmo pela inexistência, de rendimentos que a falta de trabalho acabou por proporcionar. E a consequência é evidente. Se nem sequer se torna possível satisfazer as necessidades mais básicas de muitas famílias, muito menos é permitido o pequeno “exagero” próprio da época que vivemos nesta altura.
Até poderíamos estar a falar de uma faixa muito reduzida da população açoriana. E mesmo se assim fosse, mereceria a preocupação e solidariedade de todos nós. Contudo, não é isso que se passa. É um quarto dos lares açorianos que está nessa situação. São mais de vinte mil famílias açorianas que vão estar esta noite incapacitadas de festejar o Natal como certamente mereceriam.
Em tempo de concórdia, manda o bom senso que não se entre pela via da culpabilização. Até porque as culpas não são sempre de um só lado. São sempre repartidas e é essa a forma razoável de pensar e de agir, especialmente por parte de quem detém responsabilidades em termos políticos.
Mas este é também um tempo de reflexão. E assim sendo, seria bom que fosse aproveitado para um “quase exame de consciência” por parte daqueles a quem estão atribuídas funções de responsabilidade, em particular dos que as assumem porque o voto popular assim o determinou. Aqueles que, afinal, até podem festejar o Natal sem o aperto de muitos daqueles que os elegeram.
É esse o desafio que gostaríamos de deixar para esta noite. Que os políticos, e em particular os que se encontram na área do poder, sem deixar de festejar esta noite com as suas famílias, pensem também nas famílias açorianas que hoje estão a viver um momento menos alegre.
Pode ser que essa reflexão seja esclarecedora. E pode ser que se acabe com a negação de responsabilidades. E até pode acontecer que a postura possa deixar de ser aquela que se afirma com um “olhar para os próprios botões” e passe a ser a de uma ainda maior preocupação com as “faltas de botões dos outros”.
Neste tempo de Natal, que se faça luz para as soluções. É delas que as famílias açorianas necessitam.
Feliz Natal!