Numa época em que muitos falam do fim das ideologias (erro de palmatória!) vemos em Portugal surgir na linguagem popular das televisões o adjetivo “ ultraliberal”, normalmente utilizado como crítica em relação ao governo da república. Tanta ignorância numa palavra tão pequena!
Um ultraliberal é, quase, uma abstração académica. Para ser ter uma ideia, um ultraliberal defende Estados tão pequenos que até admite a privatização das funções básicas da soberania, defesa e relações externas são disso um exemplo. Muitas vezes, de mãos dadas com os anarquistas, propõem coisas tão incríveis como as sociedades sem regras ou mesmo sociedades de cariz tribal.
O ultraliberal leva a liberdade individual tão ao limite que a vida em sociedade é muito difícil, se não impossível. O nível de fiscalidade para um ultraliberal nunca poderá passar os 10% sendo o ideal zero, em Portugal estamos na vizinhança de 50%.
Mete pena que Portugal permita estes “ chavões” utilizados, também, pelas elites intelectuais com o único objetivo de fazer política de má qualidade. Talvez seja um bom sinal sobre a qualidade das elites. Como se pode considerar um governo como ultraliberal com o nível de fiscalidade e de gastos públicos que tem, a economia portuguesa? E mesmo com o nível de proteção social existente, e bem, em Portugal?
Um governo liberal, sem ultra, nunca permitiria o aumento da carga fiscal que este governo veio a permitir. A única ideologia que marca claramente este governo é a ideologia dominante em Portugal, é a ideologia da falta de dinheiro. A falta de dinheiro para o básico é que tem sido o motor deste governo. Foi isso que empurrou os impostos para o atual nível e nos vai obrigar a uma redução do nível dos serviços públicos. A falta de dinheiro é consequência direta da falta de riqueza, ou seja de produção criada em Portugal.
Em segundo plano temos as chamadas reformas estruturais que o governo tem feito. Neste ponto temos que reconhecer que são reformas menos estatizantes do que o pensamento dominante até agora. Menos estatizantes mas muito longe de liberais, aliás todas elas foram negociadas com um governo socialista. Se tivessem sido feitas há vinte anos o país não tinha chegado ao ponto que chegou.
Seria importante que as forças vivas portugueses deixassem a retórica barata e que os adjetivos fossem utilizados com adequação e, se possível, as criticas fossem corretas.