Com quantas moedas se faz um Judas? O número parece variar, tendo em conta a maior ou menor facilidade com que tantos se desenrascam e traem a Terceira, para que foram eleitos, ou nomeados, para defender em vez de… vender!
A polémica proposta de reestruturação do Serviço Regional de Saúde teve, no meio de tanta trapalhada, alguns méritos dignos de registo. Em primeiro lugar, fez com que toda a gente começasse a discutir o Serviço Regional de Saúde, que há muito merecia ser discutido.
Em segundo lugar, e pelo facto de o documento em causa ser tão mau, conseguiu-se algo inédito que foi a união das mais variadas áreas profissionais ligadas à Saúde, incluindo os médicos, em torno de um objectivo comum: a rejeição do documento.
Em terceiro lugar, os Judas. Perante um documento que não faz outra coisa que não seja continuar a esvaziar a Terceira (neste caso, na área da Saúde), os Judas apressaram-se a defender a “bondade” do tal documento, que esfaqueia pelas costas a prestação local de cuidados de Saúde.
Se uma “reforma” do SRS constava do programa eleitoral do Partido Socialista, esta “coisa” que nos foi apresentada e que rouba serviços, especialidades e valências ao Hospital, Centros de Saúde e Centro de Oncologia na Terceira, nunca esteve publicitada em lado nenhum. Logo, assume-se que estava escondida, à espera do momento certo para ser “oferecida” ao povo, pela mão de um qualquer Judas que se prestasse ao serviço.
As justificações apresentadas são de que, o que se quer mudar, não se deve a nenhuma causa económico-financeira, mas sim com o intuito de melhorar os cuidados de Saúde, que até já são “bons”, nas palavras do Senhor Presidente do Governo. Traduzindo: a decisão não é financeira. É pura e simplesmente política e, como sempre, com bilhete, apenas de ida, no sentido Terceira – São Miguel, onde tudo se decide e tudo se centraliza. Os Judas aplaudem. A destruição do SRS é uma “melhoria” dos serviços de Saúde para estes servidores do “tacho”.
Perante tudo o que foi dito pelos mais variados sectores da sociedade civil, ligados ou não à área da Saúde, o Secretário Regional da Tutela hesitou. Abrandou o discurso e o seu ímpeto “reformista”. Não vale é dizer mentiras como aquela de que “tanto o hospital da Terceira como o da Horta, mantêm a mesma relevância na estrutura hospitalar no Serviço Regional de Saúde”, quando o que se quer é criar um Hospital Central dos Açores, em São Miguel.
Na sessão de esclarecimento que ocorreu na Praia da Vitória, ficou claro, pela voz de Norberto Messias, membro do conselho consultivo da Unidade de Saúde de Ilha, que o que está escrito na proposta “raramente corresponde ao que é dito oficialmente”. O Governo já começou a desdizer esta verdadeira “TSU da Saúde” que nos apresentou.
Por outro lado, o ainda líder parlamentar do Partido Socialista, Berto Messias, acelerava a fundo, na comunicação social, acusando os partidos da oposição de serem “perigosos críticos, demagogos e populistas, dotados de um alarmismo irresponsável”, que “aparentavam estar mais preocupados em capitalizar descontentamentos do que, verdadeiramente, contribuir para a necessária Reforma da Saúde”.
De imediato, depois de atacar, veio com a tal “narrativa” da abertura do PS/Açores a propostas da oposição desde que as mesmas sejam “tecnicamente fundamentadas, rigorosas e exequíveis”.
Mas desde quando é que o documento que o Governo do PS/Açores apresentou está fundamentado, é rigoroso ou exequível? Em algum lado se fazem contas naquela proposta? Como se pode exigir aos outros aquilo que não se cumpre? Não terá sido o próprio documento o causador do actual estado de espírito da população? E, já agora, serão as câmaras socialistas de Angra do Heroísmo, Praia da Vitória e Horta, o Dr. Roberto Monteiro ou a Dra. Cláudia Cardoso, perigosos críticos populistas e demagogos, por já se terem publicamente manifestado contra a proposta de reestruturação do SRS apresentada pelo governo?
Estará toda esta gente preocupada apenas “com os calendários eleitorais deste ano e, consequentemente, andam a promover uma campanha de alarmismo e de susto junto da população”? Oh “malta” do PS/Açores, organizem-se! Espera-se melhor do ainda líder parlamentar do partido que suporta o Governo Regional dos Açores e que nasceu na Terceira: Berto Messias.
De quem também se espera ouvir alguma coisa em defesa da nossa Ilha, especialmente pelas responsabilidades que tem ao nível do estado financeiro da Região, e da Saúde de um modo particular, é quem manda no PS da Terceira: Sérgio Ávila, presidente do Secretariado de Ilha do PS. Há demasiado tempo que o Vice-presidente do Governo se esqueceu da Terceira.
Quase tanto como o tempo que a Terceira se tem esquecido de lhe lembrar que existe! Para que quer a Terceira um vice-presidente do Governo que não defende os cuidados de Saúde na sua Ilha? Que a deixa esvaziar-se de gente, de serviços, de poder e de empregos. A troco de quê? Prata para Judas?…