Têm causado grande burburinho, junto da opinião pública regional e nas redes sociais, as declarações de um cidadão no Telejornal da RTP/Açores, indicando que um destacado deputado socialista, da Terceira, o encaminhou para os serviços de Segurança Social, de forma a poder usufruir de um “fundo europeu de apoio à aquisição de viaturas particulares”.
De facto, e segundo esse mesmo cidadão, o encaminhamento feito por esse deputado socialista permitiu que fossem pagas algumas prestações de um crédito ao consumo para a aquisição de um automóvel, o que, em princípio, confirma a existência desse “fundo europeu” para a aquisição de viaturas.
No entanto, ao que parece, esse fundo terá terminado após a recente realização das Eleições Legislativas Regionais, uma vez que a Segurança Social deixou de pagar as prestações do automóvel desse cidadão.
Ao mesmo tempo, é de salientar que as informações transmitidas pela RTP/Açores nunca foram desmentidas, o que faz subentender que esse “fundo europeu” existe efetivamente ou que, pelo menos, será prática comum o pagamento de créditos ao consumo por parte da Segurança Social.
Ou seja, a RTP/Açores noticiou que um deputado do PS da Terceira encaminhou um cidadão para a Segurança Social (IDSA), para que lhe fossem passados uns cheques para o pagamento de um crédito automóvel vencido. O dinheiro apareceu, foram pagas prestações do tal carro, o cidadão confirmou tudo em frente das câmaras, ninguém negou, desmentiu ou moveu qualquer acção judicial por calúnia, atentado ao bom-nome ou o que quer que fosse. Logo, tudo o que a notícia reportou só pode ser tomado como verdadeiro.
Também se confirma que este tipo de procedimentos terá, certamente por coincidência, cessado depois do PS ganhar as últimas Eleições Regionais…
Todos reconhecemos que se vive hoje a maior crise das últimas décadas. Nunca o desemprego foi tão alto nos Açores, nunca a população esteve tão endividada, nunca o desespero das gentes foi tão grande e nunca a ajuda pública foi tão precisa para colmatar os dramas de um cada vez maior número de necessitados.
Infelizmente, é também por todos esses motivos que acabam por surgir oportunidades para este tipo de gestos “messiânicos” com objectivos unicamente eleitoralistas e de compra de consciências.
Não foi certamente por isso que o resultado eleitoral foi o que foi. O resultado foi o que o povo quis que fosse. No entanto, aldrabice é sempre aldrabice e deve ser denunciada como tal.
Que não andem uns armados em “benfeitores”, distribuindo o que é fruto do sacrifício e trabalho de todos, por uns quantos que, por opção, necessidade ou por fraqueza, se deixam seduzir por estes truques de “galocha”.
É certo que o tal deputado não faria os mesmos ”brilharetes” com dinheiro do próprio bolso.
É óbvio que não há na Segurança Social nenhum “fundo europeu” destinado à aquisição ou ao pagamento de prestações de carros de particulares.
É óbvio que este foi um caso que veio a público, mas que um “icebergue” de muitos mais andará aí por revelar.
É óbvio que se usaram todos os estratagemas para segurar uma clientela eleitoral.
É óbvio que o deputado em causa teve o “azar” de ser denunciado… o que leva a supor que haverá outros e outras práticas. Tantas quantas as contas que se conseguiu pagar a eleitores. Um por um…
TV-Cabo, electricidade, gás, telemóveis, as tradicionais sacas de cimento, enfim, o que se quisesse.
É óbvio que, infelizmente, tudo vai ficar assim mesmo… As culpas morrem solteiras.
Foram já várias as vezes que denunciei a circulação de envelopes e outros esquemas muito bem montados no IDSA, envolvendo o Fundo de Compensação Social e o Fundo de Socorro Social.
Nunca ninguém deu a cara para me desmentir.
No entanto, com o fim dos dinheiros públicos, a verdade começa a vir ao de cima. Quem mais recebeu, é também quem primeiro “põe a boca no trombone” quando a “mama” se acaba.
Os nomes começam a ser pronunciados à medida que se vai acabando o “dinheiro dos outros”. É o lado purificador das crises.
Os recursos são das pessoas e para as pessoas. Não são benesse de alguns para uns poucos, os que derem mais jeito e no momento mais conveniente.
Quanto mais se desperdiçar em jogadas destas, menos fica para quem mais precisa. Infelizmente, hoje são cada vez menos os que não precisam de ajuda…