Portugal regressou aos mercados de médio prazo, com uma emissão a dez anos conseguimos que nos emprestassem dinheiro por um prazo de dez anos sem nenhuma garantia adicional, além da nossa capacidade de pagarmos o que devemos. Este é, sem dúvida, um ponto positivo no nosso caminho para a liberdade económica.
Muito importante é, também, referir que os tomadores da nossa divida foram, em mais oitenta por cento do montante, estrangeiros que acreditaram na capacidade de Portugal, alguns deles de grande qualidade e que gerem com muito cuidado os recursos de que dispõem. Porém é apenas o primeiro pequeno passo de um longo caminho, a emissão foi pequena e as condições de financiamento piores do que as da Irlanda.
Só quando nos conseguirmos financiar livremente no mercado é que voltaremos a ter liberdade na gestão do nosso futuro. É interessante perceber e tomar nota que este acontecimento é mais um elemento que nos leva a concluir que a imagem que Portugal, e os portugueses, têm fora de Portugal é muito melhor do que a imagem que temos de nós próprios.
O sucesso financeiro só é sustentável se for acompanhado de um sucesso económico. Infelizmente, o sucesso económico continua a parecer estar longe. Depois de todo este grande ajustamento do Estado mas, sobretudo, das pessoas em Portugal exige-se uma ideia para Portugal, os portugueses têm o direito de exigir de quem governa uma ideia para Portugal.
Mais do que dizer que há alternativas e que queremos crescimento (quem não quer?) é fundamental pensarmos o que é que vai ser de Portugal após o terrível período que atravessamos. É verdade que grandes reformas foram feitas mas contínua sem se perceber muito bem como é que vai ser o futuro.
Por vezes parece que alguém tem uma ideia: fala-se do mar, mas não há uma política de médio prazo consistente; fala-se do turismo residencial e dos vistos dourados, meses depois todos os países aflitos fazem a mesma oferta, a “preços” mais baixos; fala-se na reindustrialização, esquece-se a reindustrialização… O que nos tem valido é uma classe empresarial de excelentes vendedores que, muitas vezes, retomam os contactos esquecidos dos pais e vão vender a nossa produção pelo mundo fora.
Se não fosse este espírito de comerciantes a situação seria ainda mais difícil. Por alguma razão o único português, de que me lembro, nas histórias do Tintin era o Sr. Oliveira da Figueira que vendia tudo a todos! Como resultado desse espírito as exportações são a variável que melhor aguenta nesta conjuntura, resta saber se continua a haver quem alimente esse aumento das exportações. Com a Europa em recessão não parece fácil!