1. Os Açores vivem provavelmente a maior crise económica e social da Autonomia. Contrariando a tese de alguns que a crise não chegaria à nossa Região, ela aí está de forma avassaladora. O nível de desemprego é o sinal mais evidente e mais preocupante dessa situação.
Infelizmente a nossa ilha não é exceção. Também aqui o flagelo do desemprego começa a atingir uma dimensão assustadoramente preocupante. O mais recente exemplo é o anunciado encerramento de uma unidade hoteleira na Horta que levará para o desemprego cerca de 26 pessoas. O que, se no plano social constitui um verdadeiro drama social para estas famílias e para esta comunidade, no plano político é mais um sinal de que a política regional de turismo ruiu.
2. O que é verdadeiramente inaceitável e incompreensível, para uma Região que se diz com as finanças públicas equilibradas, é constatarmos que a principal causa das dificuldades de muitas empresas são os atrasos de pagamentos do próprio governo e de muitas empresas públicas.
Só os três hospitais da Região têm uma divida a fornecedores de cerca de 130 milhões de euros. O Hospital da Horta deve a fornecedores cerca de 20 milhões de euros. Só a um fornecedor local deve mais um milhão de euros. Se o Governo pagasse tudo o que deve lançaria na nossa economia uns milhões de euros que dariam um grande contributo para atenuar os efeitos da crise.
Para além destas dificuldades financeiras, o nosso hospital debate-se com uma diminuição de especialidades médicas que é ainda mais preocupante e comprometedor do seu futuro. Desde 2011 que o número de ortopedistas residentes diminuiu de três para apenas um, o que obviamente muito contribuiu para um grande aumento das listas de espera para consultas e cirurgias ortopédicas. Além disso, também perdemos, por razões várias, os médicos especialistas residentes em pneumologia, nefrologia e ginecologia. O único urologista também já passou à condição de aposentado.
Esta diminuição de valências reduz naturalmente a capacidade de oferta médica do nosso hospital e se não for urgentemente invertida, esta situação comprometerá o papel do nosso Hospital no Sistema Regional de Saúde e na nossa vida social e económica. As dificuldades em atrair e fixar especialistas, associadas aos constrangimentos financeiros e ao apetite sorrateiro de outros para absorver o papel do Hospital da Horta, alicerçam as fortes razões que tenho para estar profundamente preocupado com o futuro da nossa unidade hospital.
3. Os atrasos nos pagamentos que causam dificuldades acrescidas às nossas empresas não se ficam infelizmente pela administração regional. A Câmara Municipal da Horta também está nessa lista, como ficou mais uma vez provado com a apresentação das suas contas relativas a 2012. Vangloria-se a maioria na Câmara de ter diminuído o prazo de pagamento a fornecedores, pagando a 101 dias, muito longe do desejável e do estipulado na lei. O que se podia pedir a uma Câmara com tão baixo nível de investimento é que pelo menos pagasse aos seus fornecedores a tempo e a horas. Mas nem isso!
Para além disso, as contas do Município comprovam o que todos já tínhamos percebido: que 2012 foi mais um ano de investimento muito diminuto. Apenas 44% do previsto! Mesmo sem obra, a Câmara continua com um endividamento global que atinge os 10,5 milhões de euros, com resultados líquidos negativos atingindo um défice de 7,56% e a prometer muito mas a executar muito pouco. Após 24 anos de gestão socialista da Câmara da Horta a falta de inovação e de soluções são evidentes.
4. O recente insucesso na atracagem de um navio no novo cais, fez ressurgir a discussão à volta dos constrangimentos daquela infraestrutura. Uma obra que resultou numa boa gare marítima mas num cais com operacionalidade reduzida e redutor do nosso desenvolvimento. Mas o que é ainda mais grave são as consequências desta obra, que muitos entendidos diziam que iria ter, na operacionalidade de todo o porto, e que, infelizmente, o tempo começa a comprovar.
Recentemente alguém bem vivido nestas andanças relatava-me os episódios que os navios “Corvo” e o dos combustíveis tiveram para operar no cais comercial do porto. Se já é muito mau terem-nos feito uma obra tacanha, se ela estragar a mais-valia que a Horta tinha na boa operacionalidade do seu porto, isso será não só absolutamente imperdoável, mas de consequências inimagináveis para o nosso futuro!