Em dezembro deste ano Angra do Heroísmo soma 30 anos enquanto Cidade Património Mundial. A primeira Cidade Portuguesa a deter este galardão da UNESCO e da Humanidade.
Neste sentido, será útil e desejado que este ano seja também dedicado ao debate e à reflexão sobre esta temática. O que ganhamos, o que perdemos ou o que deixamos de aproveitar no Concelho, na Ilha e para os Açores pela existência desta qualificação.
É um facto que Angra com o seu legado histórico e cultural é uma “cidade invisível” no contexto regional e padece de projeção e de presença. O silêncio contextual é uma evidência e Angra não se afirma na Ilha nem no exterior. Falta estratégia e ideias a todos os níveis.
O Centro Histórico padece de vários males como o despovoamento, o envelhecimento, um comércio moribundo, vários edifícios em ruínas, invadidos por térmitas, carece de melhor organização funcional dos serviços públicos, uma vocação marítima desaproveitada e uma circulação de trânsito a necessitar de alterações.
A classificação pode ou não contribuir para tornar Angra habitada e rejuvenescida? Pode ou não projetar e marcar Angra no mapa como ponto histórico, educativo e turístico? Pode ou não criar as pontes de relacionamento com o mundo recuperando a vocação transatlântica e cosmopolita? Pode ou não colocar Angra na modernidade sem destruir a identidade do valor edificado? O que falta fazer e o que deveria estar feito? Um conjunto de interrogações que exigem um conjunto de respostas. Para isso estamos todos convocados.
Desde logo, continuamos sem o Plano de Pormenor e Salvaguarda de Angra, aliás várias vezes anunciado. Recorde-se que o Plano de Pormenor está em elaboração, pelo menos, desde 2004 e todos os anos são inscritas nesta rubrica grandes verbas no Plano e Orçamento da Câmara. Vai assim, saltando de plano em plano como outras urgentes intervenções como são o caso do Teatro Angrense (símbolo cultural de Angra infestado de térmitas) e do Mercado Duque de Bragança.
Este ano deve ser dedicado a avaliar e a delinear novas políticas, para além do mero simbolismo comemorativo da data. Os próximos 30 anos exigem planeamento, responsabilidade e decisões.
É pouco, muito pouco se nos cingirmos à simples celebração do aniversário. È o mais fácil de fazer e o mais cómodo. Aproveitemos a data para irmos mais longe e estabelecer as sinergias e as parcerias para resgatar o nosso Centro Histórico do imobilismo a que está remetido.