Claro como água – Opinião de Luís Garcia

1. Recentemente o antigo responsável pelos Portos da Terceira, Eng. Ribeiro Pinto, publicou nas redes sociais uma fotografia da baía da Horta com o novo cais, com o seguinte comentário:

“Por esta fotografia vê-se bem porque é que as condições de agitação marítima na zona sul do porto da Horta se alteraram com a construção do molhe norte. A ondulação que entrava para a Conceição, com o molhe é “dirigida” para a zona sul do porto. Claro como água…!”

Esta é mais uma voz reconhecida que se junta às críticas e às evidentes consequências que a orientação daquele molhe teve no nosso porto.

A este propósito vale a pena também recordar que numa entrevista a um jornal local, o então responsável pelo Porto da Horta, Eng. Ângelo Andrade, afirmou: “Eu defendia uma orientação diferente do molhe para leste. A equipa de engenheiros que estava a desenvolver o projeto concordava comigo”.

Ora perante estas afirmações fica “claro com água” que a decisão de encurtar aquele molhe não foi uma decisão técnica, mas sim política. E esses políticos, que ainda governam a Região, para além de terem de ser responsabilizados por isso, têm a obrigação de corrigir este grave erro.

2. O investimento no porto da Horta, que rola há mais de 12 anos, devia ser estudado nas universidades como um exemplo de como não se deve fazer um investimento público. Foram e são erros atrás de erros.

O primeiro grande erro cometido por esta governação e pelos seus cúmplices no Faial foi o desrespeito pela história e pelo forte contributo do nosso porto para o desenvolvimento passado, presente e futuro do Faial e dos Açores. Essa importância obrigava a outro rigor e a outro planeamento.

O segundo grande erro foi não terem ouvido e envolvido, desde o início, os faialenses e especialmente todos os setores que ali trabalham na reflexão e na definição das soluções a adotar.

A seguir vieram as grandes diferenças entre aquilo que foi prometido e aquilo que foi concretizado, com muitas mentiras, sobretudo, com o encurtamento do cais construído a norte, com as consequências que estão à vista de todos, com exceção daqueles que por cegueira partidária não o querem admitir.

3. Mas este folhetim está longe do fim. A segunda fase tem sido caraterizada por muitos milhões inscritos nos planos, que nunca foram concretizados; por um concurso em ano eleitoral que ficou deserto e por muitas revisões de projetos que mais não são do que manobras para adiar o investimento.

Acho que já vamos na 3ª versão, mas aparentemente, neste caso, desconfio que nem à terceira vai ser de vez!

Nas últimas jornadas parlamentares que o PSD/A realizou no Faial reunimos com algumas instituições, setores e personalidades ligadas ao porto e fiquei verdadeiramente preocupado com as dúvidas que foram fundamentadamente levantadas a esta última versão do projeto, sobretudo, pelas eventuais implicações na operacionalidade do cais comercial e na estagnação das águas no interior da baía.

Para além de preocupado, fico perplexo como é que o Governo, a Portos dos Açores e o projetista nesta fase e depois de todo este longo processo ainda não têm respostas para estas e outras dúvidas. Mas para mim está “claro com água” que não têm essas respostas por teimosia.

E este é outro grande erro deste processo. Esta governação e os seus cúmplices no Faial nunca reconheceram que os erros cometidos na primeira fase tiveram consequências na agitação no interior da baía e nunca tiveram a coragem de mandar fazer um rigoroso estudo para avaliar tudo isso.

Agora, ao mesmo tempo que o Governo jura que a solução apresentada é a melhor e que vai avançar, a Portos dos Açores vai instalar uma bóia ondógrafo no interior da baía para estudar a agitação marítima. E as obras no mar vão começar sem se conhecerem esses resultados e sem se esclarecerem estas dúvidas?

4. Perante tantas certezas do Governo de que a última solução técnica apresentada não comprometerá a operacionalidade e a segurança do porto e o desenvolvimento de todas as suas valências, os deputados do PSD eleitos pelo Faial, a 7 de janeiro, requereram os estudos que foram realizados para fundamentar esta solução e se foram realizados ensaios em simulador de manobra.

Os 60 dias que o Governo tem para responder aos deputados estão ultrapassados. Porquê tanta demora na resposta? Para mim está claro como água…