Será mesmo um fantasma? – Opinião de Luís Garcia

1. No passado mês o Governo Regional lançou um novo concurso (o segundo) para a “empreitada de remodelação do Hospital da Horta e construção do edifício da Unidade de Saúde da Ilha do Faial”.

Recorde-se que estas obras foram prometidas, em agosto de 2014, na inauguração do designado “Bloco C”, pelo Presidente do Governo Regional que anunciou que, como estava previsto na defunta Carta Regional das Obras Públicas, a segunda fase das obras no Hospital da Horta decorreria no segundo semestre de 2015.

Na altura o Presidente do Governo especificou os melhoramentos incluídos na empreitada e acrescentou como novidade o facto de que “no âmbito deste processo, está em fase de adaptação do projeto a passagem dos Serviços do Centro de Saúde da Horta também para a nova ala a construir neste edifício” e acrescentou “que com esta transição, garantem-se melhores condições de funcionalmente e uma interação efetiva entre os cuidados de saúde primários e os cuidados hospitalares, com grandes vantagens para os utentes”.

2. Na altura a decisão de deslocalização do Centro de Saúde para um edifício a construir junto do “Bloco C” do Hospital da Horta pareceu-me uma decisão positiva do ponto de vista do utente e que poderia possibilitar o estabelecimento de sinergias entre as duas instituições de saúde do Faial.

Porém, para além dos atrasos que este investimento vai sofrendo, como tantos no Faial; atualmente adensam-se as dúvidas e as informações contraditórias sobre o modelo de funcionamento que o Governo pretende implementar no Hospital da Horta e na Unidade de Saúde da Ilha do Faial após a empreitada agora lançada. Para alguns o Governo quer criar e experimentar no Faial uma Unidade de Saúde Local. Ora se a proximidade entre hospital e centro de saúde é o pretexto para novas experiências no Sistema Regional de Saúde, então que as comecem por outras ilhas onde essa proximidade já é uma realidade.

3. A verdade é que é o próprio Governo a gerar essas dúvidas. Se antes os membros do executivo falavam que esta deslocalização iria permitir “uma interação efetiva entre os cuidados de saúde primários e os cuidados hospitalares”, agora a narrativa evoluiu. Na nota do Gabinete de Apoio à Comunicação Social que divulgou este concurso é referido que “os benefícios desta fusão situam-se ao nível da relação direta dos utentes com o hospital, criando um polo de saúde que dará uma melhor resposta às novas tendências sociais, alterações demográficas e evoluções tecnológicas”.

Ora o que significa “fusão”? Consultando um dicionário “fusão” significa a “transformação de duas ou mais coisas numa só”.

4. Neste contexto, mais do que conhecer os edifícios a construir ou a melhorar, o que é absolutamente urgente clarificar é que modelo de funcionamento pretende o Governo implementar após esta intervenção e assegurar desde já que, apesar da proximidade, ambas as entidades – Hospital e Unidade de Saúde – manterão as suas identidades, missões e valências no âmbito do Sistema Regional de Saúde.

Os deputados do PSD eleitos pelo Faial dirigiram, na semana passada, um requerimento ao Governo Regional a solicitar esses esclarecimentos. Após notícia pública desse requerimento, que na verdade teve pouco eco na Comunicação Social, encontrei um cidadão ligado ao setor da saúde que me disse: “já estás tu a ver fantasmas!”.

5. Não sei se estou a ver fantasmas, o que sei é que estou cansado de reestruturações e experiências que no Faial significam quase sempre esvaziar e desqualificar serviços para os concentrar e reforçar em outros sítios. Por isso, é absolutamente determinante assegurar que a deslocalização da Unidade de Saúde para junto do Hospital não tenha objetivos escondidos e penalizadores para o Faial e para os cuidados de saúde que aqui são prestados.

Temos todos, incluindo os responsáveis pela gestão das nossas instituições de saúde, de exigir estes esclarecimentos para que se evitem apetites concentracionistas que existem neste domínio no Faial e, sobretudo, no Sistema Regional de Saúde. Infelizmente exemplos não faltam de tentativas e desejos de desvalorização do nosso hospital.

Mais do que “fantasmas”, espero que este escrito seja entendido como um alerta preventivo que motive os faialenses e as suas forças vivas a se unirem na defesa das nossas instituições de saúde.