Visão, ou a falta dela – Opinião de Francisco Câmara

Em 1992 a Universidade dos Açores acolheu o seminário “NATO Advanced Study Institute, Molecular Spectroscopy: Recent Experimental and Computational Advances”, que decorreu no Hotel Açores Atlântico, tendo sido disponibilizado um super computador CONVEX 3440. A sua instalação foi feita por dois técnicos da marca, tendo ficado a funcionar nesse estabelecimento hoteleiro. O equipamento foi disponibilizado para que os investigadores pudessem correr os seus modelos. Durante 15 dias a Universidade dos Açores ficou com a responsabilidade de mantê-lo operacional, não tendo ocorrido qualquer tipo de problema.

Ficou provado que a Universidade dos Açores tinha condições para operar um supercomputador, que durante 15 dias os seus técnicos ficaram com a responsabilidade de mantê-lo operacional, enquanto os investigadores corriam os seus modelos.

A Universidade do Minho, soubemos há pouco tempo, acolherá agora o supercomputador do projeto Azores Air Center, e nesse âmbito irá atrair investigadores, projetos e financiamento, bem como agregará um núcleo de pessoas altamente qualificadas e serviços paralelos que se traduzirão em reputação e postos de trabalho. Do lado dos Açores, e da Terceira em particular, ficam apenas os anúncios de que o Air Center iria criar postos de trabalho altamente qualificados para mitigar a redução norte-americana nas Lajes. Sem qualquer desmerecimento para a reputada Universidade do Minho, perdemos uma excelente hipótese de criar um polo de desenvolvimento, postos de trabalho e de reter os nossos jovens com formação superior, que se veem forçados e rumar para fora da região para encontrar ocupação.

Mais do que uma máquina, o supercomputador era uma oportunidade de ouro para criarmos um centro de excelência avançado na área da climatologia e das ciências do mar, ao mesmo tempo que atraímos e retiamos postos de trabalho altamente qualificados. Com estes, outros postos de trabalho e serviços adicionais seriam criados, tais como técnicos de manutenção de sistemas auxiliares de energia e ar-condicionado, necessários aos equipamentos deste tipo.

Dado que os supercomputadores são adequados ao processamento de elevadas quantidades de informação, poderia ser criado um negócio paralelo na área dos Data Center, zona de armazenamento de dados internacionais, aproveitando o isolamento da nossa região, longe de guerras e tumultos, com a segurança dada pela proximidade de uma base militar. Um projeto como chegou a ser proposto pela Câmara da Praia da Vitória. Novamente, estaríamos a criar postos de trabalho altamente qualificados e economia para a nossa região. Estaríamos a criar um futuro para os nossos jovens, altamente qualificados mas que não encontram emprego na nossa terra.

Para tudo isto era necessária visão. Porém, parece que nos Açores não houve, e o computador rumou ao Minho, onde irá criar as valências e postos de trabalho que refiro e, se calhar, muito mais.