Quando a arte de ludibriar é aprimorada – Opinião de Catarina Furtado

A situação do Grupo Sata esteve, e continua a estar, na ordem do dia. Muita tinta, muitas páginas de imprensa, muito tempo de noticiário deram, e dão, conta disso.

A preocupação com o grupo deriva, essencialmente, e como é sabido, do profundo desequilíbrio financeiro e situação de falência técnica em que se encontra, dos seus sucessivas e anunciados “problemas operacionais” e da instabilidade laboral que o tem caracterizado.

Nem é preciso estar muito atento a estas matérias para saber que a situação é de facto preocupante.

Vai daí, e porque compete à oposição fiscalizar a ação governativa, no Plenário de Setembro houve, inclusive, uma interpelação ao Governo sobre o assunto.

É aqui que entra a parte do ludibriar, mas de forma requintada. Poder-se-á achar que ludibriar é uma palavra forte, se calhar até é, mas se a entendermos como sinónimo de “fazer troça de”, “escarnecer” ou “zombar”, aí considere-se que se aplica de forma bastante certeira no âmbito deste artigo.

Pois é, numa manobra de diversão já conhecida deste Governo e no âmbito da interpelação atrás referida, disse-se assumir a responsabilidade, só porque sim e porque ficava bem, sem de facto se reconhecerem os erros acumulados de estratégia e de gestão que conduziram à degradação financeira do Grupo.

O Governo Socialista preferiu e prefere demitir-se das suas obrigações e das suas responsabilidades. Recusou-se e recusa-se a olhar para o que falhou, para onde ele falhou, e isso tem-no impedido e continuará a impedir de conseguir redefinir os destinos do Grupo Sata.

Assumir verdadeiramente as responsabilidades significaria não insistir nos mesmos erros.

Assumir as responsabilidades significaria governar com seriedade e transparência.

Assumir as responsabilidades significaria ter a humildade de não querer atirar areia, ou pedregulhos, para os olhos dos açorianos em matérias relevantes, quaisquer que que sejam elas, ou seja, significaria não ludibriar.

Infelizmente esta postura, a postura do desvio das atenções, do foguetório propositada ao que corre menos mal e da fuga à responsabilidade ao que corre desastrosamente é recorrente. A nós cabe-nos denunciá-la e lutar contra ela, porque se não o fizermos, acabaremos acreditando que tudo vai bem em terras de César e que não passamos de cordeiros manietados nesta terra.