O medo – Opinião de Hermano Aguiar

O medo é a mais primária das emoções, a mais fácil de despertar no ser humano.

Numa sociedade composta de 245.000 almas, vivendo em nove pequenas ilhas, onde a economia é quase inexistente, e onde abunda a pobreza e a ignorância, o terreno é propício a um poder politico que aposta no medo para eternizar-se na cadeira do poder.

Quem de nós não conhece um açoriano – do funcionário público ao profissional liberal, passando pelo empresário – que, à boca pequena, nos transmite o seu medo em fazer pública a sua opinião politica, porque não vá algum auscultador do poder prejudicá-lo ou à sua família, em relação às supostas benesses ou oportunidades que o poder absoluto faz distribuir na hora e na família certa?

Criar o medo à base das dificuldades de cada cidadão e depois fazer-se passar por o dono da solução, é a forma eleitoral ganhadora que tem vindo a ser praticada ao longo dos anos de autonomia democrática.

O argumento do medo convence porque apela de modo visceral à recusa das alternativas de poder, ao desconhecido.

E o retrato diário da nossa sociedade, plasmado nas páginas dos jornais, nas ondas da rádio e nos écrans da televisão, alimenta este medo para poder continuar a alimentar-se.