O nome e o perfume – Opinião de Cláudio Lopes

É admirável a velocidade com que na política passamos de “bestial” a “besta”. Isso comprova que na atividade política acabamos, muitas vezes, por ser o resultado daquilo que os outros dizem de nós, em cada momento, em cada conjuntura e de acordo com algum interesse específico.

É, igualmente, admirável a hipocrisia com que alguns nos tratam. Em certos momentos somos o valor mais importante que o partido tem para concorrer a determinada eleição. Não há nos arredores ninguém melhor. Esses momentos correspondem, por vezes, a candidaturas difíceis, quando a derrota é mais do que previsível. E se a derrota efetivamente acontece, porque afinal era incontornável, então os mesmos que afirmavam sermos os melhores, já olham para nós e falam de nós, como derrotados. Então, nas eleições que se seguem, porque as oportunidades de eleger os menos valiosos já é muito maior, aparecem alguns que se arrogam como os melhores candidatos e organizam todos os expedientes estatutários e não estatutários para afastar os que politicamente possam impedir que os seus objetivos pessoais sejam alcançados. Não importa, por isso, avaliar se o trabalho que se está a fazer é de qualidade, e se quem o faz têm aceitação na sociedade civil. O importante é arranjar argumentos, mesmo que pouco válidos e/ou usar táticas e estratégias pouco democráticas, para afastar os que incomodam. O importante é fazer tudo para ganhar uma oportunidade.

Mas como se pode pretender ser “arauto” da democracia se não se pratica a democracia na vida interna do partido?!

É enorme, por vezes, a distância entre o que se transmite aos outros sobre alguns (os que se quer afastar), e aquilo que os cidadãos, em geral, pensam sobre os mesmos. Mesmo sabendo que assim é, opta-se por ignorar as evidências. Dá mais jeito. Serve o objetivo.

É brutal, a verbalização a que se recorre, por vezes, para denegrir o bom nome daqueles que continuam a merecer o respeito e a credibilidade popular.

Esta é a estratégia dos fracos!

Falo em abstrato, não me dirijo a ninguém, nem a nenhum partido, em específico. Refiro-me apenas às “(in)fidelidades” políticas e ás “guerrilhas internas” que se vivem nos partidos, sobretudo em véspera de atos eleitorais.

Razão tinha Mei Yao Ch’ en ao afirmar: «Quando atacais um Estado importante, se podeis dividir as forças inimigas, os vossos meios serão mais do que suficientes.»

Consciente de muita coisa, sobretudo do longo tempo que já tenho de atividade política, de que a renovação é necessária, de que uns continuam a querer a minha participação política, mas outros não, não sendo pois já uma situação pacífica, decidi tornar pública a minha decisão de que no final desta legislatura encerro a minha atividade política.

Este tempo, que me conferiu uma rica experiência pessoal e política, também serviu para estabelecer boas, sinceras e leais amizades, estando também consciente de ter suscitado inimizades, invejas e “ressabiamentos”. Na política isso é quase uma inevitabilidade.

Prefiro recordar, valorizar e alimentar o lado bom. Tudo o que não pertença a este lado, quero esquecer rapidamente.

Agradeço, do fundo do coração, a todos quantos, e foram muitos, me ajudaram direta ou indiretamente a percorrer esta longa experiência, de sucessos e insucessos, mas sempre merecedora do meu maior empenho pessoal. Porque, considero que quando se está na política, seja muito ou pouco tempo, nos devemos entregar a essa função com o máximo empenho e com ética. Foi o que procurei fazer. Porque, tal como afirmava Sá Carneiro: «a política sem ética é uma vergonha!»

Desejo, aos que se seguem, os maiores sucessos e faço votos que se empenhem, a fundo, no interesse coletivo da nossa terra e das nossas gentes.

Termino, repetindo um provérbio popular: Um Bom Nome é melhor que um Bom Perfume!

P.S. 1 – Como nas próximas eleições o que estará efetivamente em causa é a escolha entre Vasco Cordeiro e Duarte Freitas, considero que Duarte Freitas é a escolha mais certa. Porém, os açorianos decidirão em consciência, assim espero.

P.S. 2 – Vou remeter-me, durante algum tempo, ao silêncio, pelo que neste jornal interrompo, por tempo indeterminado e por razões óbvias, a minha colaboração.