Donos disto tudo – Opinião de Luís Garcia

1. “Estes tipos já se julgam donos disto tudo!” Foi com esta expressão que há dias um faialense me abordou. Admirado e sem perceber o sentido da conversa pedi-lhe que me explicasse ao que se referia. Foi então que me contou a estória que vou tentar aqui recordar.

Do dia 25 para 26 de junho ficou um avião Q 400 da SATA no aeroporto da Horta. Julgava-se que estava avariado, mas não. Afinal ficou aqui de noite porque, segundo o meu interlocutor, havia um grupo de pessoas que precisava de estar bem cedo no dia 26 em S. Miguel. Igualmente segundo o meu interlocutor, o aeroporto da Horta, que normalmente abre às 8 horas, abriu nessa manhã às 5 horas e 30 minutos e o voo (nº 2481) partiu às 6 horas e 50 minutos com 28 passageiros, e a maioria eram deputados do PS à Assembleia da República, que se encontravam nos Açores, e que precisavam chegar cedo a Ponta Delgada para cumprir o programa das suas jornadas parlamentares. O voo fez escala na ilha Terceira e chegou a Ponta Delgada com 49 passageiros.

O meu interlocutor estava revoltado porque os faialenses andam a reclamar, muitas vezes sem sucesso, mais voos para o Faial e agora que era para “servir os senhores deputados” já existiu disponibilidade da SATA. E sempre a barafustar, ia elencando os custos desta operação: a tripulação do avião teve de ficar no Faial logo custos com a alimentação e alojamento; a SATA teve de pagar taxa de estacionamento da aeronave à ANA e a antecipação da abertura do aeroporto naquela manhã acarretou custos com o pessoal da SATA, da ANA e da Segurança. E perguntava zangado: “quem vai pagar tudo isto”? Acrescentou ainda o meu interlocutor que para “disfarçar a coisa” a SATA colocou “um ou dois dias antes o voo à venda” e conseguiram vender “uma meia dúzia de lugares”.

Mas a estória não acabou aqui. O homem, aparentemente bem informado, referiu ainda que, no dia 24 de junho, o voo 636 da Terceira para a Horta previsto para chegar às 17 horas e 35 minutos só aterrou às 21 horas e 5 minutos porque esteve nas Lajes à espera de um voo da TAP que vinha de Lisboa e que trazia “senhores deputados importantes” que precisavam de vir para o Faial. E isso também acarretou custos com o prolongamento do serviço no aeroporto da Horta que normalmente encerra às 20 horas.

2. Independentemente da exatidão deste ou daquele pormenor desta “história”, a verdade é que correm muitos rumores sobre este episódio. Além disso o “Incentivo” também noticiou parte deste episódio e, segundo a notícia, obteve da SATA informação de que de facto existiu um pedido para aquele voo extraordinário no dia 26 de junho, que o avaliou e decidiu atendê-lo pois a viabilidade económica estava assegurada. Sem mais explicações nem sequer revelou de quem tinha sido o tal pedido. Tudo isto merecia, na minha opinião, uma explicação, clara e objetiva, por parte da SATA. Caso contrário, todas as especulações e interpretações são possíveis. Lá diz o povo que “não há fumo sem fogo”!

3. Também diz o povo que “quem conta um conto sempre acrescenta um ponto”. E eu não vou acrescentar um ponto, mas vários. Em primeiro lugar, com este episódio ficámos a saber que existindo um grupo de cerca de 20 pessoas interessadas em viajar em determinado horário a partir do Faial, a SATA está disponível para avaliar esse pedido e à semelhança deste caso responder positivamente. Sem dúvida, uma boa notícia!

Em segundo lugar, segundo o meu interlocutor, a justificação para tal pernoita e voo madrugador foi a necessidade de estarem cedo em Ponta Delgada para cumprir o programa das jornadas parlamentares. Ora consultando o programa das jornadas do PS, na manhã do dia 26 de junho, as ações previstas eram: “10h30 – Saída para excursão; 11h30 – Nordeste; 13 h – Almoço nas Furnas”. Daqui se conclui também que o motivo para fazer pedidos de voos extraordinários em horários especiais à SATA não precisa de ter grande relevância. O que também constitui uma boa notícia!

Em terceiro lugar, este episódio também me fez entender melhor a reação de um articulista deste jornal à deliberação do Conselho do Ilha do Faial que defende que se estude a possibilidade de regresso da TAP à rota entre a Horta e Lisboa. E percebi melhor porque se a SATA “deles” os serve tão bem para que querem a TAP! Se a SATA servisse e apresentasse tão boa disponibilidade às reivindicações do Faial ninguém teria necessidade de pedir o regresso da TAP.

Em último lugar, este episódio, sem mais explicações, parece dar corpo às denúncias que são voz corrente na sociedade açoriana, de que este regime socialista de 20 anos usa a SATA como se fosse sua, dando de facto razão ao meu interlocutor que dizia que atuam como se fossem “donos disto tudo”. Se não é verdade que esclareçam quem fez o pedido para este voo extraordinário no dia 26 de junho e divulguem a lista de passageiros que saiu no mesmo do Faial. Quem não deve não teme!