“Empinar” ou conhecer? – Opinião de João Bruto da Costa

Ouvimos, na passada semana, o Primeiro-Ministro António Costa a perorar por causa da existência de exames para avaliar os conhecimentos de alunos, justificando o propósito do seu governo ter posto o ano lectivo de pernas para o ar.

A certa altura, o timoneiro da geringonça que tomou conta de Portugal, dizia que, como todos os que tiveram uma vida académica com exames atrás de exames, fora obrigado a “empinar” uma data de coisas que nunca lhe serviriam de nada ao longo da vida (!!!).

Segundo António Costa, existe uma tremenda frustração de um adulto que passou a vida a estudar coisas que não lhe interessavam e por isso não deveríamos sujeitar as nossas crianças e jovens ao tormento de se prepararem para exames, de “empinarem” a matéria que consta do programa até porque, pelos vistos, aquilo está carregado de inutilidades que não é necessário aprender nem sequer apreender, seja pelo “empinanço”, seja pelo gosto de saber ou pelo sacrifício de ter de conhecer!

É absolutamente fantástico o argumento de que os exames são para os alunos, e para as pessoas em geral, uma forma inadequada de avaliar as capacidades e as fraquezas no conhecimento de uma qualquer matéria. Ao que parece, por causa dos exames, as pessoas são obrigadas a saber uma data de coisas que, ora esquecem naturalmente, ora não lhes servem para nada. A isto acresce o tormento de ter de se preparar para o exame, que é como quem diz: ter de estudar. O que, segundo o estranho conceito de António Costa sobre a avaliação e a exigência, é uma odisseia de “empinar” desnecessidades.

O problema desta ordem de valoração de como devemos aceder ou promover o conhecimento é que passamos a ter de intuir o que nos interessa saber, ou o que queremos saber o que, como facilmente se percebe, trata-se de uma equação sem solução pois não podemos saber o que nos interessa saber sem experimentar o que não nos interessa.

Por aqui somos levados a concluir que António Costa, o Primeiro-Ministro que “empinou” saberes abjectos, criou o conceito de avaliação de conhecimentos por via dos conhecimentos que cada um entende serem úteis apreender. Deste modo, quando formos submetidos a um exame ou, já agora, a uma qualquer prova, aquilo que não soubermos podemos sempre dizer que nunca tivemos interessados em aprender, porque sabíamos à partida que “empinar” aquele saber não se mostrava necessário.

Os tempos são, de facto, estranhos nesta “caldeirada” de “saberes” absolutos que tomaram conta dos temas da governação.

De acordo com o “fetiche” de cada corrente de pensamento no governo da geringonça que se revela num exercício de poder ressabiado, o país vê-se a braços com os devaneios intelectuais e as frustrações recalcadas do percurso de vida dos novos donos dos destinos de todos nós.

A vida de “empinanço” de muitos letrados e cursados desta elite de poder, a que se soma a ausência de paciência para o “empinanço” das matérias que constroem saberes especializados daqueles que não chegaram a “empinar” o suficiente, tornou impositivo uma nova forma de olhar para o ensino e a aprendizagem.

Pena que aqueles que querem fazer da escola pública em Portugal uma reserva de ocupação dos mais carenciados da sociedade, esqueçam que a par destes excessos de intelectualidade barata sobre o prejuízo de estudar para exames, de saber matérias que até nem se gosta, ou de treinar para superar uma prova, há todo um mundo que não se distrai com facilitismos e acede ao conhecimento a um preço que não está ao alcance de todos.