Um governo isolado – Opinião de António Marinho

O debate parlamentar do Plano e o Orçamento para 2016 da semana passada foi clarificador do sentimento de descrença que existe nos Açores depois de quase vinte anos de governação socialista.

Ficou patente a falta de credibilidade desses documentos. O que é especialmente preocupante num momento em que muitos Açorianos têm uma vida difícil.

São a receita de um governo cansado que não está a resolver problemas gravíssimos. Os últimos três anos, designadamente, revelaram-se os mais falhados pelo marasmo de governação.

O último ano desta legislatura volta a não apresentar novidades. Reincide num modelo que deu provas de não conseguir atacar a raiz dos problemas e que apenas se fica por tratamentos de circunstância. Que apenas atenuam o sofrimento, mas que são incapazes de reconstituir uma esperança perdida, há anos demais, por milhares e milhares de Açorianos.

Mantêm-se as opções e prossegue um modelo de intervenção na sociedade que se tem revelado incapaz de resolver os problemas, ou que até os tem intensificado. É manifesta a insensibilidade com os anseios das pessoas e das empresas.

E são muitos os indicadores esclarecedores do estado em que se encontram os Açores. Indicadores que o governo detesta ver invocados. Indicadores que representam Açorianos, mas que desesperam a maioria parlamentar quando são citados.

O governo e a maioria provocam sempre o ruído e a sua desvalorização. Desrespeitando, dessa forma, as pessoas que lhes estão associadas.

A oposição, nos dias do debate dos documentos orçamentais, fez sucessivas referências ao estado da Região e ao sofrimento dos Açorianos.

Do lado do governo saiu o desprezo. E sairam, também, as habituais jogadas de diversão, para que essas referências não fossem ouvidas por quem sofre.

Porque o governo foge à denúncia dos problemas. Não por vergonha, mas sim para que, pelo desconhecimento, assegure a sua perpetuação no poder.

Só que as pessoas sentem. E têm sido muito martirizadas ao longo dos últimos anos.

Esta era a última oportunidade do governo. Mas a verdade é que se revelou incapaz de alterar o rumo que os Açores seguiram nos últimos anos.

O rumo que levou a que o RSI atinja a maior percentagem da população a nível nacional, quase quadruplicando a média do país. O rumo que levou a que mais de 70% das famílias açorianas sobrevivam com menos de 530 euros mensais. O rumo que levou a que o abandono escolar precoce atinja máximos nacionais. O rumo que conduziu à insegurança na saúde, com muitos milhares de Açorianos sem acesso a médico de família e também muitos milhares que aguardam anos por uma cirurgia. O rumo que levou a níveis de desemprego elevados, designadamente o que afeta a população jovem.

O PSD/Açores não quis ficar associado a esse rumo e votou contra. Não quis dar o seu aval à ilusão do irrealizável, patente em documentos com que o governo atira areia para os olhos dos Açorianos, ficando a léguas de executar o que coloca no papel. Nem quis dar o seu aval a um modelo que tem agravado o sofrimento dos Açorianos.

Nem o PSD/Açores, nem toda a oposição. Todos votaram contra.

Do outro lado, a favor… apenas o governo. Isolado.