Cozinhados – Opinião de António Marinho

Juntou-se César a Costa, um com a cabeça em cima do ombro do outro, e meteram-se dentro da panela socialista. Foi quando empurraram Seguro, depois deste ter ganho as eleições europeias.

Acrescentaram uma pitada de imaginação de que podiam facilmente sair vencedores de umas eleições que os punham frente a frente com quem, por bom senso e coragem, tinha empreendido uma política austera para conseguir recuperar a credibilidade do país. Ao cozinhado não juntaram, contudo, a vergonha. E tentaram fazer esquecer que a situação percursora da austeridade era um país à beira da bancarrota deixado pelo amigo Sócrates. Com uma política de facilidade, à boa moda socialista.

Ficou em falta, de forma óbvia, o “sal”. Aquele que é fruto da convicção de que o projeto que se apresenta é o que melhor serve as pessoas. Sem esse “sal”, o povo inteligentemente percebeu que neles não residia uma alternativa de governação. O que sobressaiu, como sabor, foi uma enorme vontade de ocuparem as cadeiras do poder.

O que César e Costa queriam, na verdade, não era uma solução que pudesse dar continuidade à esperança recuperada pelos portugueses, depois de afastado o cenário negro de 2011. O que verdadeiramente queriam era um “lugarinho” que lhes permitisse dar continuidade às suas carreiras políticas.

O povo deu a resposta a 4 de Outubro. Levantou a tampa da panela do que até então tinham cozinhado e considerou que o conteúdo não era saboroso. Que é como quem diz, que dali não sairia alimento que lhe permitisse encarar os próximos anos com tranquilidade.

Quem tinha governado com responsabilidade mereceu, assim, o veredicto popular de que devia continuar a governar.

Foi aí que a ânsia de poder de César e Costa veio à tona. E voltaram à cozinha para tentar fazer qualquer coisa daquilo que ainda estava dentro da panela. Ou seja, o cozinhado que o povo tinha rejeitado.

Se não vai a bem, vai a mal, terão pensado. Se o povo tinha dito que não queria, isso não constituía problema. Queriam eles, e bastava. O que estava dentro da panela era para ser comido. Nem que fosse à força. Não seria agora, por causa do tal povo, que ficaria em causa a sua carreira política.

É verdade que a derrota alcançada amargava ainda mais o sabor do cozinhado preparado para o dia das eleições. A solução era impô-lo ao palato das pessoas. E se estas estavam habituadas desde há quarenta anos a ser governadas pelo que melhor lhes sabia, então a partir de agora seria deferente. O interesse de César e Costa pelos seus umbigos era o que mais contava. E partiram para a mudança das regras aceites na culinária eleitoral. Quem iria governar seria quem tinha preparado o prato que o povo tinha considerado mais amargoso.

Atropelando o sentido de voto expresso democraticamente, partiram para o assalto à cozinha.

Pegaram novamente na panela e juntaram mais dois perdedores. Todos, os três, com o hábito de se guerrearem entre si. Fingiram-se amigos e puseram na mesa uma nova “miscelânea”. Cada vez mais esquisita e que ameaça apodrecer à medida que for sendo servida aos portugueses.

São cada vez mais aqueles que dizem: “Não foi este o prato que pedi!”