A “lata” de António Costa – Opinião de Cláudio Lopes

No passado dia 9 setembro, fui um dos mais de três milhões de portugueses que assistiram ao debate televisivo entre Passos Coelho e António Costa.

Para alguns “opinion makers” o debate seria decisivo em termos eleitorais, para outros não. Para parte dos primeiros, o debate, uma vez concluído, deixou de ser decisivo. Vá-se lá saber porque mudaram de opinião.

Da minha análise, como cidadão preocupado com o futuro, particularmente com a resolução do elevado desemprego que ainda existe, no Continente e nos Açores, o candidato do PS não apresentou soluções e, embora fazendo uma tentativa de descolar de Sócrates e das suas políticas, não saiu do registo da demagogia, do ataque sem sustentação e sobretudo faltou-lhe a coerência de assumir a situação de falência que o país vivia em maio de 2011, consequência dos governos socráticos de que fez parte.

De Passos Coelho esperava uma explicação mais “preto no branco” quanto à herança pesada que recebeu, à necessidade que teve de implementar medidas de austeridade para recuperar a credibilidade externa do país e voltar a fazer crescer a economia. Também não se defendeu bem, quanto à crítica sistemática de que é alvo, sobre promessas não cumpridas, como a subida de impostos. Bastava a Passos relembrar que a falta de transparência das contas públicas deixadas por Sócrates surpreenderam o novo Governo da Coligação e obrigaram-no a rever as suas intenções a esse nível.

Mas o debate trouxe uma novidade, pelo menos para mim, proferida pelo António Costa: afinal quem pediu a TROIKA foi o PSD. Fiquei sem saber se teria compreendido bem. Mas não, ele insistiu na ideia. Por momentos pensei, será que eu andei enganado nestes quatro anos ou este A. Costa está a gozar com a minha cara?!

Fui então para o computador pesquisar algumas notícias. Nestes casos a internet é um bom auxiliar de memória.

Após alguns minutos consegui estabelecer, mais ou menos, uma cronologia dos factos:

1 – Em 11 de março de 2011, Sócrates (à revelia do Presidente da República) anuncia o PEC IV. Este programa incluía medidas de austeridade em muito semelhante ao programa da TROIKA.

2 – Em 23 de março o PEC IV é rejeitado na Assembleia da República por todos os partidos da oposição.

3- No final de março Sócrates demite-se. Duas semanas depois, a 6 de abril de 2011, Sócrates faz uma declaração ao país pedindo o resgate e declara o seguinte: «gostaria de comunicar aos portugueses que o Governo decidiu hoje mesmo dirigir à Comunidade Europeia, um pedido de assistência financeira, por forma a garantir as condições de financiamento do nosso país, ao sistema financeiro e à nossa economia….em consciência, julgo que chegamos ao momento em que não tomar essa decisão acarretaria riscos que o país não deve correr…».

Em entrevista dada á TVI, em 6 de abril de 2015 (4 anos passados), o ex- ministro da economia do Governo de Sócrates, Teixeira dos Santos, referiu que aquele dia (6 de abril de 2011) foi, para ele, o dia mais longo e mais difícil da sua vida política.

4 – Em 12 de abril de 2011, chegam a Lisboa especialistas da Comissão europeia, do Banco Central Europeu e do Fundo Monetário Internacional, afinal, a TROIKA. Seguiram-se depois reuniões da TROIKA com os partidos e com os parceiros sociais.

5 – Das eleições legislativas antecipadas, de 5 de junho, resulta uma vitória do PSD, que vem depois a formalizar um Governo de coligação com o CDS-PP.

Esta é a cronologia dos acontecimentos. Como é que daqui se pode inferir que quem chamou a TROIKA foi o PSD?! Só um político que não leva a sério a sua palavra pode afirmar uma coisa destas. E depois ainda tem “a lata” de afirmar que é preciso honrar a palavra!

De políticos destes os portugueses não precisam, aliás estão fartos!